segunda-feira, novembro 14, 2005

Ela, a Montanha


Aos pés da montanha, ele olha para cima, buscando respostas. Sua altura intimida, as árvores e pedras, vistas de baixo, parecem obstáculos. Sua dimensão é larga; seu topo se cerca nuvens, escondendo o lá existe. Quando pensa que as nuvens lhe abrirão uma janela e concederão um vislumbre, elas se fecham de novo. O vento, agudo, corre pelas brechas do caminho e atinge os ouvidos de maneira cortante. Ou seriam as criaturas vorazes que lá espreitam? Mas ela está lá, e de lá não vai se mover; isso terá que ser feito por aquele que se encorajar e se atrever dar o primeiro passo, e não há outro jeito, um passo por vez. A primeira barreira parece intransponível, os arbustos não dão pistas, não apontam caminhos. Mas seus galhos são flexíveis, com um simples toque eles podem dar espaço para passar. E com mais um passo, já se iniciou a subida, ele não está mais em terreno plano e aberto, já se encontra um passo mais alto, agora é parte da montanha. O clima ali já é mais agradável do que atrás dos arbustos e um olhar rápido consegue encontrar o que parece ser uma trilha. Um olhar zeloso, de um olho atento e corajoso, revela que não há caminhos, mas outras trilhas que podem ser abertas, algumas simples, outras mais difíceis. E quem olhou a montanha com cuidado antes de caminhar, não se esquece que é preciso pisar com atenção, nenhuma rota é certa. Mas as trilhas são mais fáceis do que lhe preveniram, com trechos agradáveis, em que a montanha começa a revelar aos poucos a vista que aguarda o aventureiro. E durante a escalada, pode-se sentir uma agradável brisa, ora soprando as costas, como que encorajando a subida, ora soprando o rosto, indicando que o caminho está aberto. As árvores que lá de baixo amedrontavam, agora fornecem sombra; as pedras, por sua vez, são degraus confiáveis. Mas as pernas já cansam, o peito já arfa, o suor brota, mas como resistir ao convite que a montanha lhe estende?, como conter a curiosidade daquilo que há no topo?
Sim, houve quem já desistiu, quem sequer tentou, quem lá chegou e só conseguiu pensar em como as pedras lhe cansaram, mas quem sobe com espírito leve e clareza vai beber da fonte pura e fresca, vai provar do perfume da mais delicada flor que a montanha é capaz de produzir, vai ser acariciado na face pela brisa gentil, vai ver a beleza que ela quis te mostrar.

Nenhum comentário: