terça-feira, novembro 29, 2005

Om

Adoro quando acordo sem hora e vejo que a manhã ainda não passou; quando o carro passa em um filete de água e faz aquele barulho, tchíííííí; como minha irmã e eu cuidamos uma da outra; como as orelhas do meu cachorro balançam; como o meu pai ri depois de implicar comigo; como bebês são cheirosos e fresquinhos; quando ele me segura pela nuca e hesita um segundo e meio me olhando nos olhos antes de se afundar no meu pescoço; como me sinto depois de meditar; como o queijo estica quando derretido e a maçã estala e chora quando mordida; como a voz da minha mãe muda quando descobre que sou eu do outro lado da linha; quando há bolsos nas minhas calças; como cheira bem o pão; como a fumaça sobe das canecas; quando vejo os lírios, tão lindos, e eles perfumam onde passam; quando vaga-lumes entram pela janela; quando o coro entra arrebatador na 9º Sinfonia de Beethoven; como borboletas voam tão oscilantes; como Shiva olha etéreo em Suas representações; quando volto para casa e ainda há luz do dia; quando escuto meus cachorros brincando; quando sinto o coração dele acelerado contra o meu peito depois de gemer; como as estrelas aparecem aos poucos, uma a uma, enquanto vai anoitecendo; como os contos semitas soam cálidos e os hindús soam saborosos; como rimos antes dos treinos; quando as folhas no meio-fio voam quando o carro passa; quando tudo está quieto; quando cochilo com o vento mexendo as árvores; e quando à noite durmo sabendo que não vou ter hora para acordar.

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