quarta-feira, março 22, 2006

Dia calmo aquele, com o clima quente e úmido como era típico naquela época do ano, sem nuvens ameaçadoras à vista. Entre as obrigações do coro da igreja e os estudos exegetas, conseguiu um tempo livre, nada mais que uma tarde. Passava muito tempo entre imagens sacras e sacerdotes, num meio termo entre a vida laica e a monástica; seu ideal de descanso era sair de dentro daqueles muros, mas também passava longe de qualquer agitação.
Naquele sábado, escolheu a escola primária. Com tantos serviços alí prestados, tinha livre acesso. Nem queria muito, apenas alguns momentos sob o sol, em silêncio, naquele jardim elevado onde o zelador havia escolhido plantar pés de acerola e laranja. Bastava estar lá, ouvindo conversas e passos ao longe, com um pouco de vento no rosto.
Olhava distraída ao redor sem se preocupar em ver de fato qualquer coisa. Sem motivo especial, seus olhos pararam em duas janelas sem vidro. Viu parte de uma figura parada, não conseguiu enxergar além de parte da calça jeans e a barra da camisa de malha ligeiramente suada; as pernas paradas, ligeiramente afastadas. Viu movimentos de braços e mãos abrindo o zíper, buscando algo ali dentro. Puxou para fora. Então jorrou. Contínuo e forte. Balançou-o, devolveu-o para o lugar e fechou o zíper.
Marli reconheceu aquelas mãos, tantas vezes habilmente trabalhando sob o sol. Manteve-se ali, com o queixo caído, sorriso furtivo nos lábios, olhos arregalados e corpo desperto.
Ah, ela havia espiado, desejado, fantasiado. Já não era mais a mesma. Mas aquele pecado não confessaria, não o dividiria com o padre. Ia ser dela, só dela.

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