Antes dos seus bolinhos de chuva

Ela viu os olhinhos dele pesando, em piscadas lânguidas e longas. Largou o que quer que tinha nas mãos e roubou um pedacinho da cama para sentar-se; puxou-o para si, apoiou sua cabeça em seu colo e conseguiu acomoda-lo plenamente em seus braços, apesar de todo seu tamanho. Cantarolou baixinho melodias enquanto alisava-lhe a cabeça; ele sorriu manso ao ouvir as primeiras notas e aconchegou-se mais, esfregando o nariz em sua pele. Soltou mais uma de suas expiradas ruidosas e ficou quietinho, imóvel, entregue a uma respiração lenta. Aquele homem dormiu feito um menino de 5 anos, deleite! Sorriu ela então, mais um sorriso que nunca ninguém saberia que existiu, e repousou a cabeça assistindo imóvel, para não acordá-lo, a água lambendo os vidros da janela.