domingo, abril 01, 2007

Segundo Ato

Lembro de ir ao Theatro Municipal, os ingressos foram suados, quase não conseguimos. Era uma sexta-feira, eu lembro. E a vi subir no palco, vestida de roxo, em toda a fartura de sua forma; e ainda poucas cenas me parecem mais belas do que aquela, naquela noite. Corri no programa, à caça da minha favorita, decepção, não estava lá. Mas ela, diva, pedia licença para incluir uma ou outra no concerto (como se ela precisasse pedir permissão para cantar). Numa dessas, ela cantou. Montserrat Caballé cantou O mio babbino caro. Eu cobria minha boca com ambas as mãos para que meus soluços não atrapalhassem aquilo. Foi divino. Luxo, calma e beleza.

No dia seguinte, meu pai entrou no meu quarto. Deitou na minha cama, levou as mãos atrás da cabeça e perguntou de um jeito que ele fazia e eu gostava muito:
-Alguma novidade, filha?
-Não. Ah, aliás, há uma. - Aquela resposta era nova, ele despertou os olhos mas não me detive - Eu quero ser cantora lírica.
Ele se sentou na cama, apoiou-se nos braços, olhou surpreso e com uma outra coisa no olhar, algo entre graça e orgulho.
-Acha o professor então, já que é isso que quer.
Dois dias que mudaram a minha vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

and their friends rejoiced up!
(yeeeeeeeeiii!)