sábado, junho 23, 2007

Primeira vez aqui?

Ônti (não foi ôstro dia), fiz uma viagem à emergência de um hospital conveniado ao meu plano. E é engraçado pensar no capitalismo; desde o ano passado, vira e mexe, volto eu lá. Picadas de abelha, crise de estômago+anemia galopante, gripe nível 12... Ok, ok, posso até não virar ombudsman da equipe médica, mas precisa continuar me cobrando estacionamento?
Acontece que dessa vez nem foi comigo o problema; tava cumprindo meu papel, cuidando do que me é precioso, coisa que considero uma obrigação pessoal.
Parada em pé onde os pacientes recebem as aplicações de injeção e soro, vejo uma mulher sozinha, da geração próxima a da minha mãe, sentando numa daquelas confortáveis poltronas de lá e, claramente, passando muito mal, com muita dor; do que, não sei. Me aproximei, pedi licença e perguntei se ela não queria levantar o apoio para as pernas, ela ficaria mais confortável. Ela aceitou com um aceno sofrido de cabeça, eu me inclinei e ajudei-a com aquilo. Ela sorriu com aquele olhar dolorido e agradeceu com a voz quase espremida.
Então o meu paciente querido perguntou se ela estaria com frio e cedeu o casaco para que eu emprestasse; ela aceitou (não entendo porque hospitais cismam em deixar o condicionador de ar no modo siberiano!).
Não demorou muito, veio um enfermeiro que deve mastigar a cara todo dia antes de ir trabalhar (açougueiro como a maioria que trabalha ali, isso eu posso afirmar!) e aplicou-lhe a medicação. A mulher levantou, devolveu o casaco, agradeceu com o mesmo sorriso e saiu andando.
Não demorou muito também, saia o casal de lá com as mãos dadas e num dos quatro braços um curativo.
Sem querer duvidar do poder da amoxicilina ou qualquer coisa parecida, vi ontem que o que fez a mulher sorrir não foi o efeito da agulhada (mas foi isso que fez com que, provavelmente, ela parasse de se contorcer). Também vi um paciente sofrendo de agulhas e memórias sorrir quando ganhou apelido novo e promessas de mimos.
Por que postei tudo isso? Aconteceu comigo e, bom, esse é meu blog, oras. Mas se quero chegar à alguma conclusão? Não, mas não dói sermos mais atentos e amáveis.

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Casinho pior
Semana passada eu estava de plantão em um Hosp. Público. Eis que chega uma menina de 17 anos, totalmente edemaciada, com insuf. respiratória e tudo que tinha direito. Era grave. Ela tem insuficiência cardíaca pós-parto e uma menininha de 4 meses. Quando disse a ela que seria necessário que ela ficasse internada, o pranto rolou solto. Disse que nunca se separara da filha. Eu, inocente, disse que quase certamente a neném poderia ficar com ela para que continuasse a ser amamentada. O médico de plantão me olha de cara feia -como se fosse ridícula minha proposta de manter uma criança alimentada por leite materno-, e disse que obviamente isso não seria possível. Ok. Bola fora minha.
Então a menina me perguntou se ela seria internada em uma cama. "Como assim?" - a inocente aqui perguntou. Ela repetiu a pergunta. "É óbvio que você vai ficar em uma cama!"- respondi.
O médico quase pulou no meu pescoço. O hospital não tinha mais vagas, e ela seria internada... no chão. Esperando uma vaga para ficar sentada nas cadeirinhas da fila de espera do Hospital. O soro ficou pendurado na maçaneta da porta.
Não me senti inocente, mas sim muito burra! Aquelas pessoas com cara de sofrimento no corredor não esperavam a vez para serem atendidos. Elas já haviam sido. Aquela já era a solução final.
E ainda saí da sala ouvindo do médico que estagiário é que nem pombo. Se veste de branco e só faz M!

PS: Naquele dia que você me ligou eu não estava gripada. Tinha acabado de acordar e de pingar Sorine no nariz. Fiquei na hora com vergonha de admitir que estava faltando a uma aula chatíssima de vacinação pediátrica.
PPS: Gostei de te falar contigo.