Ônti (não foi ôstro dia), fiz uma viagem à emergência de um hospital conveniado ao meu plano. E é engraçado pensar no capitalismo; desde o ano passado, vira e mexe, volto eu lá. Picadas de abelha, crise de estômago+anemia galopante, gripe nível 12... Ok, ok, posso até não virar ombudsman da equipe médica, mas precisa continuar me cobrando estacionamento?
Acontece que dessa vez nem foi comigo o problema; tava cumprindo meu papel, cuidando do que me é precioso, coisa que considero uma obrigação pessoal.
Parada em pé onde os pacientes recebem as aplicações de injeção e soro, vejo uma mulher sozinha, da geração próxima a da minha mãe, sentando numa daquelas confortáveis poltronas de lá e, claramente, passando muito mal, com muita dor; do que, não sei. Me aproximei, pedi licença e perguntei se ela não queria levantar o apoio para as pernas, ela ficaria mais confortável. Ela aceitou com um aceno sofrido de cabeça, eu me inclinei e ajudei-a com aquilo. Ela sorriu com aquele olhar dolorido e agradeceu com a voz quase espremida.
Então o meu paciente querido perguntou se ela estaria com frio e cedeu o casaco para que eu emprestasse; ela aceitou (não entendo porque hospitais cismam em deixar o condicionador de ar no modo siberiano!).
Não demorou muito, veio um enfermeiro que deve mastigar a cara todo dia antes de ir trabalhar (açougueiro como a maioria que trabalha ali, isso eu posso afirmar!) e aplicou-lhe a medicação. A mulher levantou, devolveu o casaco, agradeceu com o mesmo sorriso e saiu andando.
Não demorou muito também, saia o casal de lá com as mãos dadas e num dos quatro braços um curativo.
Sem querer duvidar do poder da amoxicilina ou qualquer coisa parecida, vi ontem que o que fez a mulher sorrir não foi o efeito da agulhada (mas foi isso que fez com que, provavelmente, ela parasse de se contorcer). Também vi um paciente sofrendo de agulhas e memórias sorrir quando ganhou apelido novo e promessas de mimos.
Por que postei tudo isso? Aconteceu comigo e, bom, esse é meu blog, oras. Mas se quero chegar à alguma conclusão? Não, mas não dói sermos mais atentos e amáveis.
2 comentários:
Casinho pior
Semana passada eu estava de plantão em um Hosp. Público. Eis que chega uma menina de 17 anos, totalmente edemaciada, com insuf. respiratória e tudo que tinha direito. Era grave. Ela tem insuficiência cardíaca pós-parto e uma menininha de 4 meses. Quando disse a ela que seria necessário que ela ficasse internada, o pranto rolou solto. Disse que nunca se separara da filha. Eu, inocente, disse que quase certamente a neném poderia ficar com ela para que continuasse a ser amamentada. O médico de plantão me olha de cara feia -como se fosse ridícula minha proposta de manter uma criança alimentada por leite materno-, e disse que obviamente isso não seria possível. Ok. Bola fora minha.
Então a menina me perguntou se ela seria internada em uma cama. "Como assim?" - a inocente aqui perguntou. Ela repetiu a pergunta. "É óbvio que você vai ficar em uma cama!"- respondi.
O médico quase pulou no meu pescoço. O hospital não tinha mais vagas, e ela seria internada... no chão. Esperando uma vaga para ficar sentada nas cadeirinhas da fila de espera do Hospital. O soro ficou pendurado na maçaneta da porta.
Não me senti inocente, mas sim muito burra! Aquelas pessoas com cara de sofrimento no corredor não esperavam a vez para serem atendidos. Elas já haviam sido. Aquela já era a solução final.
E ainda saí da sala ouvindo do médico que estagiário é que nem pombo. Se veste de branco e só faz M!
PS: Naquele dia que você me ligou eu não estava gripada. Tinha acabado de acordar e de pingar Sorine no nariz. Fiquei na hora com vergonha de admitir que estava faltando a uma aula chatíssima de vacinação pediátrica.
PPS: Gostei de te falar contigo.
Postar um comentário