* Para evitar mais sustos, o post que se segue é puramente ficcional.
Acordou. Sem saber se pela dor dos hematomas ou se pela luz entrando pela janela que antes era coberta pela cortina. A cortina? Tinha sido a primeira a lhe dar amparo, e naturalmente a primeira a cair, quando fora atingida pela primeira vez. Ergueu-se. As pernas ainda bambas, por dor ou por medo de que ele ainda pudesse estar ali. Olhou em volta, nada; olhou pela janela, o carro não estava na entrada de casa. Respirou fundo, minimamente aliviada.
Caminhou até o espelho, talvez a única coisa que ficara intacta ali. Tirou o cabelo do rosto e examinou as feridas o máximo que pôde no espaço ínfimo de tempo entre olhar o reflexo e ter a visão embaçada pelas lágrimas. Cobriu o rosto, teve vergonha daqueles olhos que a examinavam da parede. Soluçou, e o soluço trouxe a seqüência dos fatos, dos gritos e dos estilhaços. Agradeceu pela decisão de mandar os filhos para o sul para passar as férias com a avó e os primos. Como testemunhas ou vítimas, não os queria ali.
Tentou se recompôr, prendeu o cabelo ignorando a dor das concusões, ajeitou o fino casaco de lã, tentando tapar com as mãos os rombos abertos no tecido. Botou uma das cadeiras, a única ainda interia, de pé e sentou-se. De cabeça baixa, por um momento breve, sua mente não se deteve em nada. E então pensou e refletiu. Já vira o marido irado antes, ele já havia segurado seu braço com força, mas nada grave, uma pequena vermelhidão e só. Mas na noite passada, tudo fora diferente. A última frase dele que retinha em sua memória dizia "viu o que me fez fazer?"
A campainha tocou.
Um comentário:
É sempre uma aula.... e eu, que de bobo só tenho o endereço, não falto, chego cedo e levo maçãs para a tia...Obrigado.
Postar um comentário