Minha mãe havia passado o dia reclamando e tentando arrumar aquela extensão. Era uma daquelas antigas redondas, preta e laranja, com a entradas em cima e a base giratória para enrolar o fio por dentro. Mau contato, já tá muito velha, não tem mais jeito...
Então meu pai chegou em casa do trabalho. Era uma visão que eu sempre gostava, a porta se abrindo e ele aparecendo depois de um dia inteiro longe.
Ele ouviu as saudações mas as queixas não demoraram muito. Precisamos de uma nova, não funciona. Meu pai apoiou a pasta no chão, sentou-se em sua cama comigo bem ao lado. Era horário de verão, lembro bem, o dia ainda estava claro. Pegou uma faca de manteiga, com a ponta arredondada, e abriu o plug. Encaixou os fios nos pinos, arrumou tudo dentro daquela pecinha plástica e fechou. Pronto.
Não havia nem 10 minutos que meu pai havia chegado em casa, e aquilo que foi problema o dia inteiro provou ser nada. Eu fiquei ali, sentada, sorrindo de leve, olhando-o, com a certeza de que nunca me esqueceria daquele dia; ou melhor, de que ele nunca sairia da minha cabeça. Meu pai era o meu herói, desde criança, desde os duelos que ele travava com o meu irmão na sala, entre a TV e o sofá, armado com a bainha da espada de plástico do meu irmão, em que ele dizia que era o Esqueleto e dessa vez He-Man não escaparia; desde sempre, que via-o saindo cedo para ir trabalhar ou acenando da varanda enquanto íamos ao colégio.
E com o tempo e as várias voltas que o mundo deu, não importa quanto tenhamos nos afastado, sempre soubemos achar o caminho até o outro de volta.
Nunca precisei de um herói com cuecas por cima da calça ou capas esvoaçantes; meu herói sempre teve estilo.
2 comentários:
Você domina a velha arte de me emocionar. Com os olhos marejados leio "PARA O ALTO E AVANTE!" e se na sua frente estivesse, daria-lhe um forte abraço para esconder as lágrimas.
ADOREI!!!! (COMO SEMPRE)
Linda a filha do teu pai.
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