quinta-feira, outubro 25, 2007

Na trincheira

Você deu aquela piscada mais longa que não lembra quando começou. Como um grito em forma de silêncio, seu corpo pede cafeína. Seus olhos abrem, seus instintos se mobilizam, seu corpo passa a se preparar para a caça: sua memória traça o mapa das fontes possíveis, seu olfato aponta as fontes disponíveis e seu paladar seleciona as fontes viáveis.
Falta a arma. Você abre a carteira, a última nota de real foi naquele brigadeiro gordo do almoço. Sobraram as moedas. Você cata todas elas, espalha-as sobre a mesa e descobre que está distante R$ 0,10 do preço do café.
Seu corpo começa a se resignar àquele estado e abaixar as armas contra a sonolência que ganha terreno. Sua mente ainda é o último ponto de resistência, sola. Lamentando-se derrota, repassando as falhas, recrimina-se por aquela vez que deixou o troco para o vendedor de balas, chora por aquela moedinha que caiu do bolso e foi cantando até seu asilo na fresta reclusa e perpétua entre a estante e a parede; pensa naquelas outras que aguardam a próxima mudança de plano econômico no fundo do porta-lápis, das quais você sequer sabe o valor, pensa naquele troco em moedas de R$ 0,05 que se juntou a você no domingo em que foi comprar pão e desde então não deixou de encoxar a nota fiscal da padaria contra a fórmica da mesa da cozinha.

4 comentários:

Gabriel Cruz disse...

tentou comprar o café com balinhas?

xistosa, josé torres disse...

Gosto da maneira como descreve a simplicidade dum piscar os olhos e sem "cheta", (é calão - não malcriado), para um café.
Há dias que somos traídos pelas nossas fraquezas monetárias ... então é melhor fechar as "persianas" e dormir ...

xistosa, josé torres disse...

Se a Zumbi, necessitar de ajuda para o blog, eu tenho o resto da saga, (história), das loiras e muito mais ...
Não me ofereci directamente, pois pode levar a mal.
Nem sei se está melhor e eu nestes casos acobardo-me, pois nem sei o que dizer.
Se ela tivesse e-mail disponível, enviava-lhe o que tenho.

Tinha um grande relatório escrito e sem querer, nem sei onde carreguei, apaguei tudo.

Não se pode chamar amizade, ao desconhecimento total e na internete, há muitas ratoeiras.
Mas uma cumplicidade, existe e por isso é que me ofereço.

Por falar em internete, tenho como exemplo o meu caso, que assino xistosa.
Tinha quem me enviasse beijos por e-mail.
Como sou gozão, ainda alimentei o sonho a dois, mas depois contei a verdade.
Nunca mais apareceram.
Qualquer dia digo quem são, mas no "inséte", para saberem que eu não falo nas costas, é sempre de frente!
Desculpe este chato com tanta letra.
São duas e meia da manhã e em vez de vir duma boite com a minha "metade", estou "práqui" de pé, no estirador, a escrever ...
Sou mesmo pírulas! (maluco)
Um abração!

xistosa, josé torres disse...

Vim ler novamente esta descrição.
O simples, lógico ... quanto baste para o efeito, mas duma candura e explicitação tremendas!

Já sei que não foi acaso, porque em muitas outras situações, tenho inveja de não escrever assim ... simples e belo.
Um bom fim de semana!