Ele não se cansa.

A filha de um antigo amigo do meu pai se casou. Fomos amigas na infância; hoje, apesar de morarmos no mesmo condomínio, perdemos completamente o contato, quase estranhas. Tudo bem, coisas normais da vida.
Primeiro, na ante-véspera do casamento, liga o chato-pai:
— Quer ir ao casamento da fulana?
— Quando?
— Sexta.
— Não.
— Não?! — Notam a surpresa na voz dele? Ele me avisa de um casamento dois dias antes e se surpreende com a minha recusa. — Por quê?
— Não dá.
— Nossa, hein... na sexta, não dá?
— É, pai. Porque quando mulher vai a casamento, tem que ver vestido, unha, cabelo, sapato, bolsa... Dois dias não dá.
Por mais forte que fosse meu argumento, ele não gostou. Ok.
Uma semana depois, liga ele de novo:
— Filha, vou lá levar o presente de casamento à fulana. Quer entregar?
— Não, pode entregar.
— Ué, por que não entrega? — Se ele não aceita um "não", por que ele pergunta?
— Chato pai, tenho coisas a fazer, e vou fazer o que lá?
— Você foi convidada ao casamento.
— Não fui. Você perguntou se eu queria ir. Posto que sou maior de idade, e ainda por cima não moramos juntos, eu deveria receber um convite separado em meu nome, como bem manda o savoir vivre.
— Vocês são amigas. — Notem como ele ignorou meu argumento.
— Fomos! Em 1932! Não somos mais.
— E agora são inimigas?! — Acho que nunca comentei que meu pai é PhD. Em distorcer o que eu digo.
— Pai, traz o cartão que eu assino. Uso até todos os acentos. Beijos.