terça-feira, junho 24, 2008

O adeus da estação

Sob as pesadas cobertas, observava o vento jogar a chuva contra o vidro. Encolheu as pernas para tentar esquentar os pés, que não se bastavam nas grossas meias de lã. E foi aí que concluiu que já rolara na cama por tempo demais.
Encheu-se de coragem para sair do aconchego cálido da cama, enfiar-se nas botas longas e ligar para o táxi.
Ao descer no destino, sentiu as mãos geladas, e logo pensou estar fazendo a coisa certa.
Primeira porta à direita do elevador. Tocou a campainha, mas não obteve resposta. Insistiu, sabia que ainda estava acordado. Sem perceber, pressionou o botou mais uma vez, por mais tempo que a boa educação recomendava.
Foi então que ouviu passos que terminaram com a luz d apartamento invadindo o hall de entrada. Antes que o homem enrolado na toalha cujos cabelos pingavam pudesse articular qualquer palavra, ela se lançou em seus braços.
— Eu sei que disse que estava tudo acabado, que não dava mais, mas a verdade é que sem você não dá.
Sem protestos, a porta se fechou. Dormiram cansados, trançados, felizes e acolhidos.
E nos dias que se seguiram, as chuvas foram mais impetuosas. Mas o frio lancinante não os atingia, viviam juntos, comendo fondue, bebendo de copos enrubescidos. E ela em suas elegantes botas, botas que ele adorava.
Pouco tempo passou até que chegasse a primavera e, com isso, a chuva se despedisse.
E numa dessas manhãs em que ela acordou antes dele, viu pela janela o céu azul, com a promessa no cheiro do vento de que o dia seria quente e ensolarado.
Puxou da escrivaninha um papel em branco, marcou-o com caneta azul e botou-o visível. Olhou à volta, checando o ambiente. E saiu, com a botas na mão para calçá-las no caminho, não queria acordá-lo e ter que se explicar, se despedir. O que os mantinha juntos já se fora.

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Um belo conto de fadas ...
Só que a fada é a bruxa má!
Quem manda os homens fecharem os olhos?

Temos de estar sempre vigilantes!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.