domingo, setembro 07, 2008

Com todo o respeito

Há algum tempo estava eu no ônibus. Entrou para pedir esmolas um sujeito que havia perdido uma das pernas. Enquanto ele entoava seu mantra, "com todo respeito, senhoras e senhores, vim aqui pedir humildemente a ajuda de vocês..."(bom, vocês conhecem o texto), entramos na curva da Av. Rui Barbosa. Quem conhece ali sabe como ela é longa e como os ônibus aceleram sem dó no trecho. O sujeito se agarrou num dos ferros para não cair, mesmo havendo vários bancos vazios, e dizia "Deus está vendo a humilhação que passo! Deus há de olhar por mim!".
Foi um tal dos passageiros levantarem correndo e enfiarem notas de R$ 1,00 no bolso do pedinte antes de voltarem aos seus lugares, que talvez aquilo tenha dado o resto do dia de folga ao cara. Mas a curva continuava, e o motorista não parou de correr.
Até que eu gritei do meu banco:
— Oh, motorista, vai mais devagar. Não tá vendo que o sujeito aqui tem dificuldade?
O motorista ainda praguejou, retrucou mas terminou diminuindo a velocidade, também não foi muito. E logo depois o cara desceu, sem ter sentado uma só vez.
Aquilo fez eu me coçar. Me incomodou mesmo. Sim, o motorista foi estúpido acelerando o ônibus daquele jeito, ainda mais com um cara lá dentro sem um dos membros, que ele mesmo havia deixado entrar; mas o cara realmente usou a sua condição para fazer com que as pessoas dessem esmola por piedade, foi conveniente ele lá suando para ficar em pé. E quem enfiou os trocadinhos que tinha no bolso dele só fez isso porque se sentiu mal com a situação e queria depois poder dizer que "fiz alguma coisa pelo aleijadinho". A questão é que não ajudaram. Um troco não ajuda, não salva o cara de cair e se acidentar.
E aí me pergunto se a esmola não entra sempre nessa regra.

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Mas o cara não caiu e foram os passageiros que "caíram" na "canção" dele.

A vida é para os espertos!
E por muito que façamos, há sempre alguém que pensa que é mais esperto que nós ... mesmo que o deixemos acreditar que é verdade.