sexta-feira, novembro 07, 2008

Janela indiscreta - parte III

Foi numa quinta-feira, seu amigo fotógrafo o havia encontrado mais cedo, perto do trabalho, enquanto a maioria dos outros transeuntes caminhava para almoçar. Falaram de equipamentos e agora ele levava para casa o que havia comprado. Chegou armado de uma caixa longa, pesada, com vários sachês de silicagel. Jogou os sapatos em um canto, como de costume, mas nem se ocupou com a secretária eletrônica ou quis acender as luzes. Sabia que em breve o seu foco chegaria em casa, queria estar preparado para isso.
Violentou o embrulho, armou o tripé e aparafusou ali sua nova aquisição. Mirou pela janela, mas hoje pouco importava a foto de formatura, as notícias do jornal ou se era bife para o jantar.
Certificou-se de que ela ainda não chegara.
Arrastou para perto sua poltrona favorita, que não mais se voltava para a TV de 29". Guarneceu o novo canto com uma das elegantes e frias mesas que até então se recolhia junto à parede, exigência do decorador.
Correu até o bar, esticou a mão sobre o uísque mas hesitou. Aquilo era para os amigos e papos chulos que tinham ao redor da mesa às quartas. Queria requinte. Escolheu uma das garrafas inclinadas, sacou-lhe a rolha e levou até seu novo aparador, acompanhada de uma taça delgada e altíssima.
Como última medida, trocou o CD na aparelhagem de som, manteve o controle remoto consigo, mas sem apertar Play.
Sentou-se confortavelmente, entregue à sua perversão, aproveitando cada instante daquela espera, tendo cada minuto como algo necessário ao seu prazer.

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