domingo, dezembro 28, 2008

Janela indiscreta - parte V

Passou a porta automática e pegou uma cestinha, não estava lá para comprar muita coisa. Olhou de fora os corredores tentando decidir se primeiro pegaria amendoim, queijo ou batatas fritas.
Impelido por aquele efeito que mercados causam, começou a andar um pouco a esmo, esperando que as prateleiras o inspirassem em alguma aquisição.
Passando pelos freezers, seguiu seu ritual de compras e equipou-se com 4 tipos de queijo e 2 bandejas de salame fatiado. Seguiu, e ia passar reto pelas frutas até que seus olhos pousaram num cacho de uvas rosadas e suadas, que o fez parar. Esticou a mão sobre elas, alisou a casca acetinada enquanto respirava fundo. Ergueu então o rosto para prosseguir, e quase sua cesta foi ao chão.
Ali, a menos de 5 passos, de pé entre as laranjas e as mangas, empurrando um carrinho de compras, lá estava o seu foco, o ponto para o qual seus olhos já estavam habituados a olhar. E na continuidade de seu hábito, saboreou o que era vê-la sem lentes, sem rua e vidro entre eles, sob a luz acesa, com os cabelos já desfiados pela hora avançada do dia e a pele sem frescor pelo ritmo da cidade. Apenas saiu do seu torpor quando ela se virou em sua direção, empurrando seu carrinho, e sem notar muito o que passava a sua volta, pegou dois cachos, um dos quais ele havia acariciado, e continuou seguindo.
Num impulso, ele pegou outro cacho qualquer e saiu atrás dela, mantendo-se alguns passos atrás e se esforçando para não ser traído pela intempérie que se passava dentro do peito.
Entraram na seção de artigos de higiene, ela levou algum tempo para decidir qual a marca do xampu e quais as fragrâncias do sabonete, mas ele não, confiou plenamente no gosto dela e jogou idênticos em sua cesta. Imitou-lhe também o amaciante de roupas, a comida semi-pronta, os guardanapos de papel decorados e até mesmo as suas batatas-fritas crocantes.
Ela se dirigiu para o caixa, e quase foi acompanhada, mas com o mercado vazio seria no mínimo questionável o por que de esperar precisamente atrás dela.
Pagou suas compras e correu para casa, para saber como ela as guardava.

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Vejo, pela alegria do post, que ainda não há começo de novo ano.
Até já!