sexta-feira, dezembro 12, 2008

Metrópole - parte 7

Entrou no seu 4X4, acomodando-se em seus bancos de couro. Ligou o radio na mesma estação light de todos os dias e pousou suas mãos bem tratadas no volante. Trocava as ultimas recomendações com seu empregado no banco do carona enquanto dava a partida no motor. Acelerou e fez as lâmpadas da garagem se sucederem em reflexos contra a sua lataria polida.
Seguindo o caminho, reconheceu junto à entrada o carro de sua vizinha, a mesma com a qual discutira na ultima reunião, que não cumprimentava no elevador e sobre quem adorava fofocar.
Somente quando passou-lhe próximo viu que lá estava ela com seu marido, alto e belo, abraçados num longo beijo amoroso. As mãos grandes dele em torno de seu rosto delicado, o corpo esguio encaixado num abraço caloroso, os vidros do carro ligeiramente embaçados, apesar das portas semi-abertas. Pôde, entre a pausa de uma música e outra, ouvir os versos que vinham do rádio:

I've seen this room and I've walked this floor
You know, I used to live alone before I knew you

E entendeu porque a odiava, porque era-lhe tão detestável, porque não soube se conter diante dela; percebeu aquilo que seu carro não tinha, não importasse os bancos de couro, o interior forrado, o painel em mogno. Apesar de tudo isso, não era naquele carro que desejava estar.
— Que sem classe, fazer isso aqui! E ainda nesse carro de cor cafona!

3 comentários:

Urania disse...

Mas é claro... A crítica está sempre pronta. E não mentir para si mesmo é uma arte... Difícil de ser dominada.
beijos KATH

xistosa, josé torres disse...

(banco do carona = lugar do morto)
Que diferença o mar separa.

Mas é mesmo assim, os bancos de couro são frios e desconfortáveis ...
Duas mãos quentes e dois corações apaixonado, são o que há de mais próximo do humano ... e irradiam calor ... e por vezes música!

Anônimo disse...

Kath, é você a atriz que interpreta Maísa na minisérie? É mto parecida com você!
Beijo
Key