quarta-feira, março 25, 2009

Ah, opera é a maior diversão!

Domingo agora criei vergonha na cara e fui assistir à Madama Butterfly no cinema; trata-se desta nova (maravilhosa) idéia de exibir nas salas de projeção as montagens feitas no MET de NY. Alguns podem criticar, afinal há diferenças de linguagem e recursos do palco para as câmeras e gruas. Mas se pesar na balança a chance que as pessoas estão tendo de testemunhar outras (e novas) maneiras de se fazer boa ópera, com critério e muito talento, parece que os contras nem sequer existem.
Eu poderia encher linhas sobre a história da jovem gueixa, mas isso seria chover no molhado, trata-se de umas das obras mais consagradas do grande verista italiano, deixa isso para lá. O que é surpreendente, ainda mais para nós, brazucas, que já tivemos que aturar um trem no meio do palco do Municipal num Navio Fantasma (melhor esquecer aquele Freud cheirando cocaína, e todo o resto, de Tristão e Isolda), é ver vanguarda e ousadia sendo muito bem empregadas, tudo é muito bem feito e organizado. Reneé Flemming, diviníssima, aparece logo no início dando algumas explicações. Dá até uma certa frustração, ela aparece e some sem cantar duas notinhas, sequer. Para esta ópera em questão, foram incorporados elementos do tradicional Teatro Nô e até mesmo marionetes para encenar o filho da heroína e também para fazer par no balé do início do terceiro ato.
Quanto a isso, engraçado, no intervalo, o sujeito ao meu lado acompanhado de sua esposa torna para mim e pergunta:
— Eu queria saber outras opiniões sobre esse boneco no meio da ópera. Minha mulher gostou, e você?
— Achei brilhante. — E vi a cara dele se desfazer. — Como a própria Mirella Freni disse, eles trouxeram outros elementos para a cenografia, gosto disso. Fora que ficou muito bem feito.
— Eu achei estranho.
— Natural que cause um estranhamento, trata-se de um boneco no meio de gente.
— Eu fiquei me perguntando se havia alguma representação sobre o artificialismo americano, sabe?
Primeiro, alguém explica prosujeito que novaiorquinos não vão atacar artificialismo americano; segundo, que não tem nada mais caído que ler arte com manual de instruções do lado.
— Olha, acredito que o boneco não seja nada além de um boneco. E talvez ele queira dizer só isso mesmo. É até mesmo uma forma de proteger menores, não impondo rotinas de ensaios pesadas e jornadas noite adentro para récitas.
— É que nós vimos essa ópera várias vezes, e sempre usam crianças.
— É, mas olhando pelo cenário, pelo balé, pelos passarinhos em origami, pelos ninjas no palco dando movimentos às lanteras e aos shojis, e tudo mais, dá pra imaginar que eles estão querendo buscar formas mais atuais de se fazer ópera, ver cantor em roupinha de rei pelo resto das gerações é chato, né?
Até aí achei que estava sendo um pouco estúpida seca demais com o sujeito, mas quando disse isso ele e a esposa riram, então acho que ele não levou na maldade.
No final das contas, o público lucra, não só pelo deleite de ver obra-prima no sentido que esta expressão tem, mas também em saber ser possível fazer montagens ousadas, modernas, sem pretensões intelectualóides e equivocadas.
Para quem quiser conferir o trailer, segue abaixo:

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriel Cruz disse...

Ma chama quando passar Carmem Boreana...

Aviso: Biel Blog Atualizado...