domingo, junho 07, 2009

Duas estrelas que sobem.

Essa semana tive que lidar com a perda de dois amigos. Um deles se foi em abril e eu só recebi a notícia agora; o outro era um dos passageiros do fatídico vôo da Air France. Nos dois casos, a forma de assimilar as mortes foi um tanto quanto... subversiva. Se por um lado, a um deles não cabem grandes demonstrações de luto, dado o atraso do comunicado; no outro, trata-se de um evento internacional, com exército e mídia envolvidos, em que a única certeza que há é que houve uma tragédia. E isso quebra por completo a sua maneira de assimilar as coisas; afinal, a questão mesmo de uma morte não é uma questão biológica, e sim algo cotidiano, pessoal, em que temos que, aos poucos, ir tapando os buracos deixados, ou encontrar uma maneira sustentável de conviver com eles.
Nada se assemelha à uma amizade; pai, mãe, namorado, chefe, orientador, professor a gente só pode ter um; mas amigos a gente pode acumular, apresentar uns aos outros e fazer disso uma coisa maravilhosa, e ainda assim, cada um é único. Perder amigos, então, é como apagar um pedaço da sua história, não ter mais testemunhas e cúmplices do que se fez, é também como queimar pontes, desativar caminhos, ter uma obra que nos custou tanta dedicação ser embargada; por mais que haja outros, nada entra naquele lugar nem devolve a sensação do que foi perdido.
Sobre o vôo AF 447, eu vi que a companhia alugou quartos de hotéis para abrigar familiares, dando inclusive assistência psicológica. E quando vi isso, me perguntei o que será que este melhor-profissional-de-sua-área pode fazer numa situação dessas (ainda mais se considerar que era início da semana e nenhuma resposta havia sido ainda dada) em que a perda é algo tão concreto, cruel e súbito. E às vezes as pessoas acham que porque vencemos as distâncias, encurtamos prazos e driblamos a diabetes, o poder do tempo também está no passado, quando nunca vai haver bálsamo melhor.
E a vida então segue. Saudades e paz aos amigos que foram; coragem e força aos que ficam.

Um comentário:

Anônimo disse...
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