sábado, setembro 12, 2009

Latinos son los otros

Quando eu era criança, minha mãe não deixava que eu e meu irmão assistíssemos Chaves nem Chapolin. Segundo ela, era muito ruim. Não, nunca critiquei a postura da minha mãe em querer limitar aquilo que podíamos ou não ver, acho mesmo que isso cabe aos pais, afinal, se crianças fossem aptas a filtrar o que é bom e o que não é, seriam consideradas maiores de idades (e para não alongar o post, não vou desenvolver a ironia que mora aí). Se ela estivesse comigo, o que hoje eu criticaria era o critério. Me explica porque Chaves era ruim e Trapalhões era bom? Enquanto o último era extremamente sexista com piadas nada infantis o segundo era simplesmente... mexicano. Analisando hoje, eu percebo como era um programa engenhoso, feito para as jovens mentes, desde a estrutura de suas piadas até o feeling de alguns dos seus tradutores. (Tá, nem sempre eles acertavam, mas eles sempre tentaram.)
Alguém se esqueceu daqueles sucos que o Chaves foi vender para tentar arranjar um troco?, feitos com água de chuva, com 3 sabores; sendo que o de tamarindo era feito de laranja mas tinha gosto de limão. Aliás, eu desconhecia a existência daquela primeira fruta, o que fez com que a primeira vez que caiu uma bala de tamarindo na minha mão, ácida feito as tirinhas do Sieber, eu ficasse super curiosa para provar. Mas o que acho de mais espirituoso nesse episódio era o diálogo entre o então vendedor de sucos e o seu Madruga:
— Olha, Chaves, vejo que arranjou um comércio.
— Não, arranjei um bebércio. — Ah, fofo, resposta que só uma criança seria capaz de dar.
Gracinha, então, foi o episódio em que o pobre menino precisa tomar conta dos churros que a D. Florinda fez mas terminou comendo tudo, o desfecho dá para ver aqui, historicamente fofo!
Antes que qualquer um se levante para dizer que era tosco, vale contar a história do programa. Os episódios foram feitos com a raspa do tacho dos fundos que a emissora tinha, era a última tentativa antes de assumirem a mais crua falência. E com o programa, conseguiram sair do buraco. Tanto que, com o tempo, eles foram conseguindo fazer os "efeitos especiais", como os célebres aerolitos.
E como alguém pode dizer que isso é ruim se comparando com 4 velhos que corriam atrás de garotinhas, um deles inclusive fazia par romântico com a Xuxa (não à toa os vídeos do youtube que mostram o início da sua carreira foram removidos ou censurados), e o outro era um cachaceiro confesso?
Antes mesmo de falar que isso se tratava de uma postura exclusiva da mãe, alto lá. Nós, brasileiros, ficamos tanto tempo vendo os filmes estadunidenses e os episódios dos Simpsons em que tudo que é infâme, cafona e de mau gosto vem dos cucarachos que importamos esta idéia. Quem não torce o nariz para as cenas do casamento de Babel, achando tudo com cara de lixo?
Se esquecem que quando subimos o continente atrás da Terra da Liberdade, lá não passamos exatamente deste rótulo que foi tão maleficamente cunhado: latinos. E o mais engraçado é que dividimos em 12x pacotes em preço de dólar para ir para a América atender nos bares de lá e trabalhar de baby sitters.

4 comentários:

Gabriel Cruz disse...

desce uma lágrima...

O que dizer do episódio em que todos vão pra acapulco e o chaves fica sozinho na vila (por alguns segundos é verdade... mas fica)

lulu! disse...

adorei esse post!
que bom que agora vc já tem autonomia para assistir a chaves e chapolin à vtd!
concordo em gênero, número e grau com a idéia do texto.
e eu não, não faço a menorrr questão de subir o continente rumo a lá pagar pau para ngm! hehehh
eu não me lembrava da história do chaves e chapolin. não, não são bobagem! são das mais puras representações da ingenuidade e da maldade infantis e adultas!

Michele S. Silva disse...

Muito bom o post e comparto contigo a ideia exposta no texto. Beijos

Ricardo Artur disse...

Acapulco ou Guarujá? Depende da dublagem.. hehe.

Só discordo em um aspecto. Trapalhões não pode ser considerado programa infantil. E não fale mal do Mussum, ele é meu ídolo! Cacildis!