sábado, fevereiro 13, 2010

Dentro da lei

Minha carteira de motorista venceu. É, acontece quando a gente não morre. Pois bem, fui ao glorioso DETRAN para renovação. Já começa que cheguei lá muito-muito-alegre, porque você só pisa no posto depois de pagar uma taxa de mais de R$80,00. Deve ser o quadradinho de papel mais caro da história. Some a isso um exame de vista que custa quase R$ 50,00, demora 0,9 minuto, mas o medicozinho gosta de atrasar o seu horário em mais de meia hora. Deve ser para você ficar contemplando as paredes da sua clínica importada da Antiga Mãe Rússia, com o vermelho já desbotado, só faltando o cartaz do Stalin. É muita alegria para uma pessoa só.
Ok, cheguei lá no dia marcado, uma fila de fazer parecer o Maracanã um estádio fantasma. Depois de esperar quase uma hora do lado de fora, nesse clima ameno que tem feito nos últimos dias, eu consigo entrar no recinto. É engraçada a técnica que esses funcionários públicos desenvolveram. Você fica na fila, ele finge que não te vê por 2 minutos e meio, até que você continua lá em pé até completar os 180 segundos. Como ele viu que você não foi embora, porque não é peido para ser ignorado e passar, ele te chama para te atender. Mas a esta altura, você já leu a única informação que eles fazem o favor de divulgar sem falhas: desacatar um funcionário público no exercício de sua função é crime punido com reclusão. Ou seja, bater cateira de velhinhos na Zona Sul é mais seguro.
Depois de tudo isso, os trouxas condutores trouxas brasileiros lá sentados receberam a informação de que o sistema estava fora do ar, que poderíamos esperar para ver se voltava ou voltar até cinco dias dali. Que gracinha. Que bonitinho. Que coisa mais singela. Engraçado que antes mesmo dessa palhaçada toda, eu já estava com a sensação de que cada vez que você precisa do Estado e ele te atrasa, ele está cumprindo com aquilo que ele se propõe. Talvez desta filosofia nasça a técnica do funcionalismo público supracitada.
Ok, voltei no dia seguinte, afinal, queria resolver isso antes do carnaval. Chego eu lá, passo por tudo de novo, inclusive a prova dos 180 segundos. Quando sou atendida, entrego minha papelada na mão do sujeitinho. Ele nem olha direito e prende tudo com um clip imenso e dá na minha mão, enquanto uma colega de trabalho grita atrás dele "a senha, tem que dar a senha". Eu me mantenho ali parada, ouvindo ela repetir aquilo umas três vezes, até que ocorre uma mágica com o funcionário-do-mês:
— Ih, ah, é! Tava esquecendo o principal. — disse malemolente, me estendendo um papel com um número impresso e sorrindo.
— Ah, eu entendo. Deve ser muito desse trabalho na sua cabeça. — E sorri girando os calcanhares para pegar um lugar.
E eu penso que desacato é essa situação que a gente vive.

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