A volta

Graças ao Chato-pai, voltei a ter TV. Mas não foi bem essa a intenção dele, a intenção dele era que eu voltasse a ter celular. Foi na loja e escolheu um para mim. Escolheu tão bem, mas tão bem, que até agora eu atendo ligações e só estou certa do que estou fazendo quando percebo que a comunicação realmente aconteceu. Meu novo Thudera, o segundo da dinastia, tem teclado virtual, é todo em touchscreen, toca musiquinha, e pega os canais abertos de rádio e TV. Eu nunca teria escolhido um desses para mim. Ao contrário do que Chato-pai pensa e dissemina, eu não pratico natação com o celular na cintura, sou bem cuidadosa; mas, ora, acidentes acontecem. E eu acho que um teclado virtual é muito mais sujeito às intempéries da vida do que algo bem anacrônico e ortodoxo. Mas não estou reclamando, acho mesmo que meu novo colega colunista foi feito para mim, e vi isso quando percebi que posso colocar lembretes na tela inicial em formato de post-it. Loosho!
Bom, se volto a ter TV, e se não pago além por ela, é justo que eu assista algumas poucas coisas, certo? Então, sempre que eu acho que pode estar passando noticiário, eu tento sintonizar. Nem sempre consigo, nem sempre acerto. Outro dia, me enganei de horário e sintonizei Vale a pena ver de novo, com Sinhá Moça. Eu, incauta, na hora não vi problemas com isso, desliguei o celular assim que vi a chamada da novela sem grandes traumas. O problema é que o único verso que ouvi ficou grudado nos meus ouvidos o dia inteiro, pior do que palha de pipoca no fundo da garganta.Ok, guardei a lição, não cometo mais o mesmo erro.
Então hoje fiz o certo, consegui pegar o Jornal Hoje. E, ao contrário do que era para ser, não foi uma experiência feliz. Triste essa fanfarra que virou o jornalismo. Tive que testemunhar mímicos andando pelas ruas de SP, seguindo pessoas, para mostrar como as pessoas andam distraídas. Gente, eu não tenho que gastar minha preciosa bateria — ou minha preciosa pachorra — para saber disso, eu ando pelas ruas e vejo, como motorista, ciclista e pedestre! Isso quando não falam de cabelos, unhas ou qualquer outra coisa que não merecia estar no horário nobre.
Que bom que eu tenho meu celular de volta. Porque se tivesse escolhido voltar a ter TV, o prejuízo seria grande.