terça-feira, setembro 28, 2010

Sobre passos e o nada

Chaplin tinha aquela teoria dele maravilhosa — e assertadíssima —  sobre como deveria ser o fluxo da vida. Infelizmente, não passa de uma opinião. Seria bom se o Grande Diretor pudesse ter, ao menos, alguma participação na criação das coisas. Seria um mundo mais cheio de poesia e beleza. Ok, divaguei, não vim aqui falar dele. Mas é que andei pensando sobre a vida das roupas. Parece que não ando tendo muitos outros assuntos sobre os quais pensar, mas não é bem por aí. Só que é bom ter cartas na manga para fugir da política e do preço da gasolina.
Antes que eu divague mais, eu me lembro daquilo que o Jerry Seinfeld falava que a coisa mais divertida que podia acontecer a uma vestimenta era o laundry day. Elas entravam todas num lugar escuro, agitado, com um barulho alto em suas "cabeças", e ficavam lá dançando; coisa que custa caro para nós e ainda envolve muito trabalho e salto agulha. Fora irem para lavanderia, a vida delas se resume a serem passadas a ferro quente e ficarem na gaveta esperando serem escolhidas. É muito martírio! Não à toa, ainda segundo o lirista sobre o Nada, as meias tentavam fugir se escondendo dentro da máquina de secar, rastejando como cobras para uma vida de liberdade sem sapatos ou amaciantes.
Mas eu não penso bem por aí. Acho que a vida delas é um tanto quanto parecida com a nossa, com esperas similares e um eventual divertimento. Podemos até mesmo pensar no ferro de passar como uma metáfora interessante. E no decorrer da vida, de tanto uso e batalhas, o viço vai se perdendo e as cores desbotando. No final das contas, a validação máxima que uma roupa recebe é ser acolhida e resguardada no ambiente pessoal de cada um, se tornando aquele traje para os momentos íntimos diante da TV com os pés para cima. De tanto vivenciarem o dia-a-dia, elas vão se tornando parte de nós e passam a compor uma nudez velada.
Por outro lado, isso nunca acontece com o sapatos. Não com eles, pois estão no perfeito oposto. Parece que de tanto cobrirem distâncias, caminharem e terem seus passos perdidos em esquinas, avenidas e estradas, eles se perdem de nós, viram estranhos e não mais nos pertencem.

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Uma maneira de nos perdermos neste mundo é os sapatos não pararem.
Não 'frenarem' na voracidade do dia a dia.
Ao ler o post, lembrei-me do ferro de passar que usei durante 4 anos na guerra em Angola.
Lavava a roupa e colocava-a muito bem alinhada por debaixo do lençol.
A dormir ... bem, a dormir, a roupa ficava impecável.
As roupas desbotadas com um sapato agulha de 17 cm, tornam-se em cores mais vivas que com um sapato normal.
O desbotar torna as roupas impessoais, mas os sapatos são sempre pessoalizados, penso eu.

Tessa disse...

Adorei Marilinha!!! Beijoooooooooooo