terça-feira, outubro 05, 2010

Confissões de Mario

Não é segredo algum o meu absoluto fascínio pela saga de O Poderoso Chefão, desde o livro até a adaptação à telas. Pode-se fazer uma atribuição direta ao meu sangue italiano, mas seria muito raso, até porque a origem da minha família é do norte da bota, o que, para um siciliano, é um povo tão estranho quanto um inglês, palavras do próprio criador Mario Puzo. Como simplesmente ler, ver, rever, fazer com que outros leiam e vejam as obras relacionadas é pouco para mim, semana passada chegou uma das minhas últimas aquisições, Confissões de Mario Puzo e revelações sobre O Chefão.Preciso dizer que estou adorando? A escrita do autor já é velha conhecida, mesmo quando não se trate de um romance. Gosto muito do estilo dele, como ele consegue soar poético e franco ao mesmo tempo — em geral, franqueza sempre causa repulsa, não é verdade?
Ainda nem cheguei na metade, mas, quando há espaço, é ele quem me faz companhia na cama. As páginas são sedutoras, leves, e os dedos passeiam por elas sem o menor cansaço. Se meu primeiro contato com a obra do autor já foi como uma flechada no peito me inundando de paixão, os posteriores só converteram o que havia em amor profundo. Neste livro em questão, como podem imaginar, Puzo relata algumas curiosidades sobre a obra-prima cinematográfica, como, por exemplo, o fato de que foi ele mesmo que sugeriu o nome de Marlon Brando para o grande papel. Além disso, o autor confessa algumas coisas de sua história, como o fato de ter se decidido pela literatura mesmo sendo filho de analfabetos e vindo de uma realidade onde os homens sustentavam sua família como trabalho nas estradas de ferro. Contando também sua participação de braço armado na II Guerra Mundial, ele confessa o seu fascínio pelo evento histórico, causado pela libertação SEM CULPAS (grifo do autor) e heróica que ela tenha proporcionado. O primeiro capítulo é recheado das suas narrativas sobre Hell´s Kitchen, tão saborosas que me projetam filmes na cabeça ilustrados por Will Eisner tematizando aquela América construída por imigrantes. Talvez, e essa questão é levantada pelo próprio Puzo, as coisas nem tenham sido assim tão boas e belas, mas ele possui uma propriedade — compartilhada por muitos — a qual ignoro que tenham batizado melhor do que ele: tapeação retrospectiva. O nome é tão bom que dispensa explicações, mas podemos desenvolver um pouco a idéia pelo prazer e exercício literários, falando que se refere àquela seleção cuidadosa que fazemos ao nos lembrar dos fatos, empurrando certas memórias para baixo do tapete e maquiando outras recordações para que atendam melhor ao affetto vigente. Mario — acho que depois de tantas confissões eu já posso me dar ao luxo de alguma intimidade com o sr. Puzo — era um homem ponderado e sagaz, que só usava a sua tapeação para se lembrar das coisas como bonitas, poéticas e simples. Não que possamos reduzir seu sucesso a uma característica ou ao uso acertado de uma propriedade, mas olhando por este prisma, temos uma pista boa do porquê de sua obra ser tão celebrada.

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Li de Mario Puzo "O Imigrante Feliz", há muitos muitos anos e o seu estandarte que foi um sucesso no cinema, "O Padrinho", (penso que no Brasil será, "O Chefão").
Muitos dos seus livros foram retumbantes (onde a corrupção e o crime imperam) e ... só poderia morrer tranquilamente.