domingo, agosto 07, 2011

Conversa de vinho

Historicamente, Chato-pai tem uma mania adorável de brincar com qualquer pessoa que venha atendê-lo em algum lugar,não importa se for  um servente, caixa de mercado ou promotora de vendas. Foi ele que, ao olhar para uma cestinha de pães nomeada de "torradas de ervas, senhor", perguntou:
— Ervas colombianas?
Pobre garçonete, sem nem um pingo de presença de espírito, respondeu a ele:
— Não, senhor, ervas nacionais.
Mas respostas como essas não o desencorajam neste tipo de comportamento, logicamente que o estimulam. Sempre que a caixa do mercado que ele frequenta pergunta se ele "não encontrou algum ítem desejado em nossa loja", ele nunca tem dúvida:
— Dinheiro. Procurei, procurei, perdi um tempão, e nada!
Ontem, sábado à noite, eu e o futuro sr. Kath decidimos jantar com esta ilústre figura que povoa o imaginário dos meus — cada vez mais raros — leitores. Não sei bem se foi o clima de sábado à noite, o tempo frio ou a água que serviram no avião ao meu pai mais cedo, mas ele já estava aquecido do momento que sentamos à mesa. O garçom, solícito e atencioso, trouxe logo o cardápio e a carta de vinho. Chato-pai não perdeu tempo:
— Opa, isso que eu queria, a cartinha — disse com as mãos apressadas para ler o Tempranillos e Carmenéres.
— Isso, senhor, a nossa cartinha.
— Mas cartinha? Não tem cartão?
[pausa]
Como vocês bem se lembram, tratava-se de um funcionário solícito e atencioso. Deu maior atenção à piadinha.
— Sim, senhor, — dizia entre risos — cartinha é como chamamos...
Uma garrafa de vinho depois, vocês podem imaginar que a situação não melhorou muito; pelo contrário, a figura do folclore kathiniano estava cada vez em melhor forma. Quando o mesmo garçom veio recolher os copos vazios e oferecer mais bebida, meu pai perguntou se ainda gostaríamos de beber mais, ao que respondi que já estava satisfeita. O futuro sr. Kath, que adora ficar de conchavo com o sogrão e dar moral pro véio, disse que  o acompanharia. E então o garçom nos ofereceu a garrafa fracionada. Mesmo quando não há brecha, Chato-pai cria.
— Vocês vendem como?
— Nós dividimos em terços e nós cobramos o preço da garrafa dividido, sem acréscimo, de acordo com quanto o senhor consumiu. Então pode ser um terço, dois terços...
Meu pai fez aquele olhar que eu sei o que segue:
— E se eu quiser 4 terços?
Então os olhos do garçom pairaram no ar por dois segundos, e sem sair de onde estavam, ele respondeu:
— Aí não pode.
— Não pode?
— Não — prosseguiu olhando para nós. — Minha filha falou que não podia — terminou sorrindo e saiu logo em seguida.
Sábado à noite, pessoas que se adoram aproveitando a companhia umas das outras enquanto comem boa comida. Ainda que o clima não estivesse tão agradável, com este comentário do pai da menina estudiosa, tudo ficaria melhor, sem dúvida. Fofo no último!

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Há coisas que nascem e não morrem mais.
Algumas até são boas. Muito boas.
O toque de humor, a disposição de espírito, a visão da vida por um outro prisma... são pequenos nadas que inundam uma vida cheia de nebulosas.
Como admiro o humor, mesmo o cáustico.
Então quando é esse casamento?
Tenho andado um pouco afastado. Fiz férias do tamanho do mundo, (rsrsrs).
O meu filho está em Edimburgo (Escócia)... mas foram 15 dias de chuva.
Anda uma pessoa a "comprar" coragem para voar de avião e tem um triste 'fim', "dentro" de água.
Vou tentar aparecer mais vezes.
Um abração deste lado do mundo.

(esqueci-me de dizer que a minha nora é mineirinha de Belo Horizonte.
Agora o Brasil fica mais perto... mas ainda não construíram uma ponte de ligação sobre o mar. Vou esperar)