quarta-feira, março 20, 2013

Sobre morto e catolicismo

Hugo Chavez morreu. Com certeza ficaram sabendo, senão pela notícia, por todo o tipo de piadas que fizeram, ou então pela capa da Veja com uma imagem muito próxima a qual Satã colocaria em sua foto de perfil do Facebook. Bom, se a Veja o aponta como o avatar do Capiroto, tudo indica que foi um grande homem e trouxe alguma contribuição significativa - e sobretudo boa - ao seu tempo. Mas devo dizer que tal destaque da semana não operou sobre minha opinião quanto ao falecido presidente. Não, não quero me fazer de descolada e mega-politizada, mas já há algum tempo que passei a filtrar bem a imagem que se pintava dele. A data não tenho precisa, mas eu lembro quando foi. Chato-pai é uma das maiores fontes que tenho para compor minhas opiniões. Não, não concordo com absolutamente tudo que ele diz, mas se ele tem uma especialidade, uma habilidade incrível, um dom jedi é o de trazer uma outra perspectiva sobre a maior parte das coisas das quais se escuta opiniões enlatadas. Vejam essa: uma vez conversávamos sobre a Revolução Cubana e seus líderes, perguntei se ele a favor do Fidel, mesmo com sua ditadura.
- Sim! Porque foi o início de um regime autônomo, sem a interferência dos EUA, sem o Imperialismo. É lógico que há de se ter problemas e polêmicas, mas isso também precisa acontecer para que se chegue a uma maturidade política. Por que você acha que a Mídia fala tão mal do Chavez?
Quando meu pai diz certas coisas, eu quase consigo ouvir um barulhinho dentro da cabeça, tipo assim. Sim, eu tinha muita pinimba com a turma de líderes latino-americanos, torcia o nariz para cada camisa do Che que via,  mas elas caíram por terra, todas, ali, naquele momento.
Quando Chávez faleceu, eu já sabia que havia mais motivos para luto do que para festa, e o grande e célebre responsório de notícia semanal do Brasil (com ironia, por favor) reforçou minha tese. Lógico que há aqueles que gostam de fazer uma oposição com ares mais ponderados que dizem "ah, mas ele não era nenhum santo". E é basicamente esta afirmação que me poe mais a refletir. Primeiramente, a gente se pergunta se algum político pode ser santo; se é este o rótulo que uma pessoa deve receber, talvez o lugar dela não seja bem à presidência de um país, ou em qualquer cargo de chefia. Curioso mesmo é pensar que há gente que espera encontrar um santo num comando. Até por que, ou bem você comanda ou bem você faz marketing pessoal de boa praça. E então eu começo a me perguntar por quê, como, onde e quando alguém espera encontrar um santo. Santos não existem, santos não fazem nada, ninguém nasce ou vive santo. Aliás, os santos que existem só chegaram a esta condição - ou status - depois de mortos, e muito mortos. E ninguém é mero mortal morto e vira santo. Precisa-se antes virar beato, que é outra coisa que, por si só, leva tempo. Depois de muito rolar de água, alguns poucos conseguem o estrelado santificado, mas só muito depois, depois quando ninguém mais lembra seu rosto direito, se você cutucava o nariz, se tinha paciência com o vizinho, se amarrava bem o saco de lixo pro gari não ter problemas na hora da coleta, se desperdiçava água ou se conversava alto debaixo da janela dos outros tarde da noite. Pessoalmente, eu creio que haja aí um elemento de sorte, existe um certo ponto da vida do qual você não pode avançar, morrer, e não muito tarde, é de vital importância para o processo. E para fundamentar isso, eu posso lançar mão das palavras de um grande homem, "ou você morre herói ou vive o suficiente para virar vilão". Harvey Dent sabia das coisas, ninguém chega à promotoria de uma cidade de Gotham desprovido de sagacidade. E, bom, heróis, santos, convenhamos, a diferença é pouca, se de fato há.
Citando outro sábio, cujo nome a postagem no Facebook não menciona, "se um dia te chamarem de ninguém, fique feliz, ninguém é perfeito"; eu tomo as palavras e levo para outro lado. Se reclamam de você é porque você é alguém.

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