Tenho um tia (tenho mais de uma, na verdade). Sendo da família do meu pai, convivemos pouco. Ela morava ainda mais longe do que mora hoje e um dia meu pai passou lá na casa dela por algum motivo. Voltou, trouxe presentes, para mim e meu irmão. Nós, duas tenras criancinhas, nos regozijamos ao ver uma caixa para cada um. Qualquer data comemorativa estava longe, o que aumentava ainda mais o prazer daquela visão. Meu irmão, tão novinho, ganhou uma blusa social, de botãozinho, amarela. E eu, ganhei um cinto. Feito de fibras de algodão trançado. Amarelo.
Já falei que éramos crianças?
Crianças podem ser bem sensíveis.
Lembro de ter encarado aquilo como um ultraje. Todo mundo sabe o que criança gosta de ganhar. Eu chorei, esperneei, amaldiçoei a minha tia, joguei aquele cinto no fundo do armário com toda a fúria que meu corpinho pueril podia suportar, ainda maldisse que eu ganhara o cinto, o presente bom (crianças, né, veja você...) tinha ficado com o meu irmão, o preferido.
Riu? Eu não.
Digam-me, que tipo de pessoa dá um cinto amarelo para uma criança? Aliás, aparentemente, na cidade onde ela morava deve ter havido uma liquidação de artigos infantís amarelos. Não me admira, não é o tipo de coisa que um pai amoroso compra para sua prole, ele no mínimo sabe que vai ter que aguentar uma carinha triste, senão uma cena de ira e revolta infantil, com soquinhos e chutinhos no ar ou no inocente ursinho.
Foi nessa época, jovem ainda, que entendi para que família serve. Obrigada, tia.
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