De berço

Minha mãe era uma pessoa que nunca tinha tempo. Só depois dos filhos crescidos, ela começou a trabalhar, mas mesmo assim, nunca tinha tempo, para nada. Nunca perdeu aquele ar descabelada... Sempre estava em cima da hora para alguma coisa, atrasada para outra, e ocupada demais para se deter em algo. Isso gerou várias manias, algumas eu detestava, como, por exemplo, sempre ter um livro deitado sobre todos os outros enfileirados na estante (segundo ela, evitava o acúmulo de pó, coisa que ela não tinha tempo de limpar, naturalmente). Também fazia a lasanha sem cozinhar a massa, botando mais água na hora de assá-la, fica pronto mais rápido. Com ela aprendi a me vestir em menos de 5 minutos antes de ir ao colégio, a achar desncessário panelas bem ariadas, a sempre buscar um meio de economizar poucos segundos em qualquer tarefa, como, por exemplo, ao passar latas para ela guardar na alto do armário, passar duas de cada vez.
Por motivo que desconheço, ela nunca usou shampoos 2 em 1.
Já faz muito tempo que ela se foi, e algumas das manias que ela tinha eu esforcei-me para deixá-las para trás. Sempre acordo uma hora mais cedo para fazer as coisas com calma. Mas, estranhamente, estou sempre atrasada e não perco o mesmo ar afoito que ela tinha. E, sinceramente, isso me desagrada. Queria passar menos tempo olhando o relógio e deixando que ele defina como faço as coisas e como apresso os outros (e tem sempre um que sofre por isso). Mas fica difícil abandonar velhos hábitos, sobretudo quando sempre há pelo menos um engarrafamento para qualquer direção que vá, e ainda tem ônibus que finge não ter te visto.