terça-feira, outubro 09, 2007

Retratos em negativo

Um ano e meio de relacionamento estável. Eram compatíveis, harmônicos, companheiros. Ele achara a mulher ideal: bonita o suficiente para o atrair sem chamar a atenção dos outros. Trabalhavam no mesmo ramo, o que a tornava sempre compreensiva às necessidades do trabalho e profunda admiradora do exímio profissional que ele era e que ela sonhava em ser. Ameaças nulas.
Apenas com ela ele podia fazer aquilo que mais gostava: trair. Nada o excitava mais do que aquela sensação do proibido, errado, de agir às escuras, de desempenhar outro papel, escapar às regras. Gostava, sobretudo, de se dar bem, ser mais esperto, sair na vantagem, estar por cima qualquer que fosse a situação.
Não podia ver uma mulher, sobretudo aquelas que todos viam.
Só havia um tipo lhe apetecia mais do que as troféus: as fiéis. Aquelas já envolvidas, bem-casadas, estáveis, confiáveis, que de tão satisfeitas com seus parceiros, eram incapazes de olhar para o lado. Quando em frescor de relação, estavam no auge da paixão; tomá-las era como roubar um carro zerinho. Quando então, gravadas em amor maduro, flutuando nas águas calmas de relações por anos buscadas; seduzí-las e vará-las tinha então um sabor ainda melhor, era redentivo. Era ter em quem pensar para abrandar a própria culpa quando seus olhos se encontravam no espelho.

3 comentários:

Anônimo disse...
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xistosa, josé torres disse...

Talvez lá ao longe apareça uma luz redentora, que me ilumine, mas perante esta beleza, desta postagem e com o comentário "assassino" do Criptor ... não me pronuncio mais.

Anônimo disse...
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