quinta-feira, dezembro 20, 2007

Agora não há coleiras para ele


Aquela mesma super velha tinha uma reportagem sobre como viver até depois dos 100 anos. Apesar do questionamento de por que alguém quereria viver tanto, a reportagem era interessante; só se vive tanto quando se vive com qualidade de vida.
Uma das medidas lá listada era ter um cachorro. A matéria dizia que um cachorro atua contra a depressão e estimula o exercício físico. Quem cria bicho já sabe disso, empiricamente. Sabe que mesmo sendo o ciclo de vida do animal consideralmente menor que o nosso, ele faz muita diferença. Cedo ou tarde, é necessário ter que enfrentar a dor de sua partida, o vazio que ele deixa. E ainda assim, ele nos ajuda a viver melhor.
Hoje, um dos ciclos mais belos da minha vida se encerrou. Atlas, a coisa mais cristalina que conheci, abandonou a dor que sentia. Era um cachorro feito de música, caramelo, mármore e faíscas; não havia quem fosse imune a seu jeito ou olhar. Foi-se o meu miúra. Pensando na dor de vê-lo partir, pensando no vazio que ele deixa em meu peito, pensando na alegria que não mais sentirei ao entrar em casa e olhar em seus olhos reluzentes, penso que valeu a pena. Que essa imensa ausência que ele deixa é ínfima perto de toda a alegria que ele me trouxe e foi, não só em minha vida. Triste aquele que nunca teve saudades.

Não pare ante ao meu túmulo e chore
Eu não estou lá. Eu não durmo.
Estou em mil ventos que sopram.
Estou na neve que serena.
Estou na chuva gentil que cai.
Estou nos campos em que os grãos maturam.
Estou na calma matinal.
Na pressa graciosa
Do revoar das belas aves
Estou no luar da noite
Estou nas flores que desabrocham
Em um quarto quieto
Nos pássaros que cantam
Em cada coisa maravilhosa
Não pare ante ao meu túmulo e chore.
Não estou lá. Eu não morro.

(autor desconhecido)

4 comentários:

Klaus, um afortunado disse...

Sensível, sereno, saudoso, seguro.

Simplesmente só e mesmo assim eternamente acompanhado.

Amizade sem fronteira, além-vida que lambe a ferida que o mundo cão nos traz. Ó injustiça com nossos melhores amigos, ó glória para o mundo.

Força e Luz. Au-mém.

Gabriel Cruz disse...

parafraseando Josh Billings se existe algo que o dinheiro não compra é a felicidade do sacudir da cauda de um cachorro...

Atlas deixa saudades por deixar muitos momentos de felicidade.

beijos!

xistosa, josé torres disse...

Não sei se tinha alma, tal como os humanos também não sabem. Mas presumem, os presumidos.
Paz à sua alma!
Todos passamos por isso:
nascer, viver e morrer é inexorável!

Anônimo disse...

:...(

é.

beijo na sua testa.
quem tem bicho (e ama o bicho) sabe o que é.