sábado, dezembro 01, 2007

Contagem Progressiva

A metade do que ele fez ele não cobrou. Da metade que ele cobra ele cobra a metade.
José Carlos Süssekind, engenheiro
No início deste ano, o Paço Imperial do Rio de Janeiro (imagino que haja outros por aí) fez a exposição Oscar Niemeyer 10|100, PRODUÇÃO COMTEMOPRÂNEA 1996-2006. Não bastasse aquele lugar gracinha que é o Paço, ainda escolhem um tema desses. Então, no meio das minhas férias, sob um calor senegalês, eu invento de ir ao Centro, onde eu sempre preciso ir por causa da faculdade; logo, neste caso, distância rima com descanso.
Reuniram as maquetes, as fotos, as plantas, os projetos de uma (brilhante) carreira. Lembro de um painel que exibia um mapa mundi com indicações de todas obras do Grand'Arquiteto. Contei 102.
E entro numa sala. Ampla, com um único banco branco posicionado bem ao centro e as paredes completamente cobertas de texto. Havia pessoas ali paradas, em silêncio, lendo. Pesquei com os olhos vários trechos para saber do que se tratava, era uma entrevista que ele havia dado.
"Nossa, botaram paredes inteiras cobertas com o que ele disse. As pessoas mal lêem outdoors hoje em dia, esforço jogado fora..." — pensei.
E algo puxou minha atenção para a primeira letra maiúscula, lá alto à esquerda. E foi aí que censurei-me da minha própria ingenuidade (ignorância?). Eu já havia assistido entrevistas com o nosso sábio antes, e sabia do jeito que ele tem de contar as coisas, discursos densíssimos com leveza e encantamento, coerentes com sua arquitetura. E mesmo suas palavras transcritas, marcadas, impressas, não perdem a marca de seu falante. Sentei no banco que parecia, naquele momento, pequeno para abrigar aos ávidos leitores, quase como ouvintes. E ficou a sensação de que não basta olhar para seus projetos, por mais sublimes que sejam, para entender a dimensão do gênio. É preciso olhar para o nidivíduo para entender o que lhe concede o poder de fazer concreto pairar como bolha de sabão.
Próximo dia 15, o Grand'Arquiteto, ainda em atividade, completa 100 anos; e para isso o portal UOL organizou uma bela homenagem. Mais que merecida. De todos os que tem a benção de falar dele, ouço sempre com especial carinho o Süssekind, fiel calculista, que, parafraseando suas palavras, tem a alegria de poder chamar o Oscar de amigo, como se não houvesse distância em suas idades. Invejinha...
Meus votos são de que este seja o primeiro de muitos centenários.

A gente imagina que daqui a 300 anos ainda vão falar de nós, mas é ilusão. Vão lembrar só do Oscar. Sempre haverá alguém estudando a obra dele.
Darcy Ribeiro, antropólogo

Um comentário:

Anônimo disse...
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