segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Fixação

Quando se deu conta, percebeu que havia atrasado pouco mais de uma semana para cortar suas unhas. Não estavam imensas, mas notou que chegara até ali sem quebrar uma sequer. Limitou-se a lixá-las brevemente, apenas para que tivessem formas harmônicas, e deteve-se em contentar-se o trabalho bem feitinho.
Os dias se seguiram e elas só aumentaram. Não bastou mais a lixa, seguindo a regra, esmalte vermelho fortalece, e foi isso que usou. A cobertura carmim se foi, e não levou nada consigo. Buscou em farmácias os vidrinhos de fortalecedores, os enriquecidos apenas com colágeno não satisfaziam. Cultivou-as longamente, fugiu da louça a ser lavada, esfregou menos as roupas, esquivou-se de trabalhos domésticos ou pesados.
Em uma das várias incursões, deparou-se com um outro vidrinho. Nada do saudável vermelho, havia algo a mais em sua fórmula que o tornava ainda mais reluzente. Era levemente purpurinado, metálico como o capô de um carro de exposição. Achou que seria uma mudança interessante e ousou. Foi capaz de passar um longo tempo admirando as pontas dos dedos.
E quando menos esperava, não fizera nada demais, quebrou. Segurou aquela ponta arredontada cintilante, sem saber se deveria ir ao lixo ou merecia ser guardada. Esmoreceu.
E pegou a tesoura, lixa era pouco, e cortou-as todas, no sabugo. E manteve-as brancas.

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