E ontem, conversando com ele mesmo, lembrei de um dos pontos mais felizes da convivência com a minha mãe. Entre muitos erros e atritos, ela teve acertos maravilhosos. Foi ela que me levava às exposições de pintura em porcelana e me fazia perceber as nuances das obras. Desde cedo, eu e meu irmão assistimos filmes como dos irmãos Marx, Jacques Tati e Kurosawa. E foi assistindo a Sonhos que penso que ela definiu toda a minha percepção de arte; eu não tinha nem 10 anos. Em uma das várias histórias que compõem essa obra-prima, havia "The Blizzard", em que 4 homens subindo uma montanha nevada são surpreendidos por uma nevasca. Lembro de quando a cena começa, as 4 figuras imersas na brancura agreste, só com o vento cortante e o ruído de suas insustentáveis respirações, sem dizer uma só palavra. E assim permanece por mais de 5 minutos. Meu irmão logo começou:
— Fala alguma coisa. — Pausa. — Tá silêncio, fala alguma coisa!
Aí até eu me influenciei:
— Não vão falar nada?
E minha mãe, tão compenetrada diante da TV, redarguiu severamente:
— Se eles não falam nada há um motivo. Vocês deveriam tentar entender porque eles estão em silêncio.
Naquele momento eu me calei, e pela primeira vez me dei conta de que o falar altera sua respiração e pulso, gasta mais ar do que a quietude. Como o silêncio e a conversa, cada um a sua maneira, possuem a sua própria insustentável leveza. Pode não ser o único, mas a arte está herculeamente baseada neste pilar.
Por fim, uma das pessoas que mais admiro e a quem sou grata nesta vida me enviou hoje uma mensagem, e dela eu compartilho o trecho final:
Mãe pode ser a avó,
a tia ou uma irmã,
pode ser até o pai,
pois é a figura que assume a maternidade,
ainda que de outra barriga,
e recebendo de Deus o bastão,
leva adiante a tocha sagrada do amor,
pois ser mãe é esquecer um pouco de si mesma,
para se tornar inesquecível na vida de outra pessoa:você!
a tia ou uma irmã,
pode ser até o pai,
pois é a figura que assume a maternidade,
ainda que de outra barriga,
e recebendo de Deus o bastão,
leva adiante a tocha sagrada do amor,
pois ser mãe é esquecer um pouco de si mesma,
para se tornar inesquecível na vida de outra pessoa:você!
3 comentários:
Menina...
Você é a própria essência da leveza humana.
Obrigado por ter esta alma e compartilhar.
Tens um dom.
O de comover.
Beijos..
Os homens não choram ...mas lêem.
Não sei se li ...
Obrigada por este momento.
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