segunda-feira, junho 16, 2008

Música não, mágica.

Ontem, no Theatro Municipal, apresentou-se Bobby McFerrin. E aí esbarra-se em um problema: o que ele é? Compositor? Cantor? Regente? Showman? Orquestra? Bom, o cara é tudo isso, e mais. Eu diria que é um mago, um encantador. Dono de um carisma que consegue a façanha de ser maior que a sua voz, ele se apresenta em um palco equipado apenas com uma cadeira, uma garrafinha de água e microfone com retorno. Enfiados em jeans surrados, mocassins gastos e uma T-shirt com aquele ar de conforto que só o uso excessivo consegue dar, ele mantém a platéia na sua mão por uma hora e meia, com apenas duas participações especiais, dividindo os espectadores em naipes de um coro, fazendo com que cantássemos notas para cada passo que desse, fez duetos com alguns eleitos da platéia e até chegou a chamar ao palco pessoas para dançarem ao som de suas improvisações ou para cantarem suas composições corais instantâneas (e eu fui uma das felizes integrantes deste último grupo); e ainda saiu deixando a sensação de quero mais.
Preciso admitir que apertar a mão daquele homem foi uma sensação transcendental por saber que se trata de um dos grandes gênios que a raça humana, com todas as suas infelicidades, conseguiu produzir.
No final do espetáculo, ele abriu para as perguntas da platéia. Ao ser indagado sobre quem o inspira, ele foi gentil e sublime em sua resposta, disse que muitos o inspiram de maneiras diferentes. Primeiramente o seu pai, Robert McFerrin, o primeiro cantor negro de prestígio da ópera, definido pelo seu filho como um grande preparador vocal; falou de Gandhi, de Chaplin, de Mozart, o maior compositor em sua opinião, e citou deleitáveis nomes do jazz como o de Herbie Hancock.
E eu ficava ali, sentada, tentando formular uma que fosse das infinitas coisas que me vêm à cabeça para lhe perguntar. Sem sucesso. E talvez a resposta para cada uma delas pudesse ser "ouça a minha música". Sem rótulos, sem convenções, baseada em feeling e feita para ser, acima de tudo, divertida, entoada para encantar.

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Um actor que é para os espectadores, como que uma "sereia" para os marinheiros.
Talvez não ... que entrar pelo mar adentro, pode ser perigoso, mas requer saber nadar.
No palco, requer saber ouvir.
Coincidências.