domingo, setembro 21, 2008

Cidade, tal como a conhecemos

Bem-aventurados
Os bem-humorados
Porque conhecem a alegria
Da eterna juventude

Algumas da viagens que fiz me renderam boas considerações e idéias; houve até registros por aqui de algumas das minhas peregrinações cosmopolitas pelo Distrito Federal. Mas é engraçado como nunca falei da minha própria cidade assim. Geralmente trato da abstração da metrópole, e alguma coisa e outra que a assombra; mas olhares sobre o Rio de Janeiro em sua particularidade são raros e parciais, e sem a minha cidade como foco.
E só essa semana me dei conta dessa minha falha, da minha falta com o meu próprio lar. Não foi ao saber que meu fiel livreiro é, antes de tudo, um exímio poeta, com 5 publicações já lançadas; e ouvir e ler suas poesias enquanto aquele cachorro vira-lata berrava ao microfone músicas velhas atrapalhando o Passeio Público. Também não foi antes disso, quando conheci a antiga boneca japonesa, de louça fina, com têmpera de aço e voz de seda. Nem mesmo sexta, quando outro poeta aqueceu a mãozinha gelada da sua poesia.
Foi ontem, com todas essas coisas ainda penduradas no meu cabelo, depois de dias e dias de chuva, atrás do volante. Praguejando e desviando dos lerdos e tranca-ruas, na rua Joaquim Nabuco, chego à av. Vieira Souto e dou de cara com o sol, coroando o Vidigal, e sorrindo para mim.
E entendi o que esta cidade tem que não permite que a odiemos, o que faz com que nossos pés daqui não queiram ir embora. É esse beijo.
Eu sorri de volta.

Bem-aventurados
Os enamorados
Porque vêem Deus
Na presença amada
(José Enokibara)

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