terça-feira, janeiro 27, 2009

Beleza é fundamental

O açúcar, depois que passou a ser extraído da cana e da beterraba, virou vício, alterou as bolsas no mundo e mudou os hábitos alimentares, sobremesa é parte indispensável da refeição, mesmo que em grandes doses seja nocivo. E uma vez vi um estudioso definir a beleza assim. Não é essencial, não torna nada melhor, mas é algo pelo que temos uma atração instintiva.
O que eu me pergunto é em que esta atração está pautada hoje em dia.
Beleza já foi considerado como um estranhamento, como uma espécie de deformação, já que é o que faz algo ser diferente do resto, ressalta um elemento em meio a tantos outros, sendo aquilo que é um atributo exclusivo, não compartilhado. Acredito que Giuseppe Tornatore soube expressar isso muito bem quando fez Malèna (2000), pegou o mais bonito dos rostos e retratou como uma cidade inteira não suportava a sua perfeição, tanto homens quanto mulheres.
Mas com toda essa quebra de paradigmas que vivemos, algumas coisas também mudaram nesse campo. Não que hoje haja uma aceitação muito melhor quanto ao que é belo, mas a lei da diferença que enlatece já foi esquecida. Beleza, hoje, é uma exigência, uma obrigação. Não há nada no corpo que não possa ser mudado, supostamente melhorado e tornado mais bonito. O que transforma num padrão, que opera desde os cílios até as unhas. Cada parte nossa tem um jeito certo de estar, o que faz, conseqüentemente, que todos os outros jeitos estejam errados. Belo é aquilo que mais se encaixa nesse modelo criado que, aliás, nunca foi tao arbitrário, portanto não ser bonito é uma responsabilidade individual, nada tendo a ver com carga genética ou magnetismo pessoal; nada mais fica ao acaso.
Para tanto, numa época em que nunca houve tantos registros dos momentos mais banais, criam-se os macetes da boa aparência, como aparecer em todas as fotos com a mesma cara, sob o mesmo ângulo, fazendo o mesmo beicinho. Esqueçam os sorrisos, a espontaneadade e a expressividade, isso dá rugas, marca o rosto e deforma.
Nesse contexto, o que seria então da nossa Marylin, curvilínea e sorridente? Seria apenas mais uma decadente que insistiria em aparecer pela sorte de ser loira, coisa que ainda tá valendo.

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