segunda-feira, junho 15, 2009

Metamorfose

Quando eu era criança, nunca fui dada a fazer crueldade com bichinho, matar formiga, chutar gato ou atear fogo em teia de aranha. Então quando eu era novinha, sim, eu era uma forte candidata a me encaminhar ao Paraíso, na companhia de anjinhos bundudinhos, depois que eu morresse de forma poética e serena.
Com os anos, isso foi mudando, eu percebi que ia descer sem escalas depois de uma morte patética, como ser atropelada na Av. Brasil por um Uno Mille branco, tendo como uma das últimas visões um daqueles outdoors sobre instalação de GNV. Por incrível que pareça, eu comecei a perceber isso dentro do colégio católico que estudei por 5 anos, e não foi enquanto eu apagava o resto de vela de sete dias que ficava aos pés da santa, e ficava observando de longe, rindo, uma das freiras ter que queimar o dedo para ancendê-la de novo. Afinal, eu só apagava, meu amigo enchia a boca de água e cuspia lá dentro. Também não foi numa das infinitas manhãs em que eu deliberadamente passava a mão no relógio da parede e adiantava algumas boas horas; isso não deve ser pecado, afinal tempo é relativo.
Este insight me veio mesmo durante as missas do colégio, em que nós perdíamos mais de dois tempos de aula. Eu até cheguei a tocar violão em alguma delas, não que tivessem me dado qualquer tipo de escolha, escolas fundamentais não são, afinal, democracias. Dada, então, as dissonâncias harmônicas que a minha má vontade criava, as freiras decidiram dar a chance da ilustre participação a algum outro aluno que elas teriam o orgulho de colocar no caminho de Deus, e não o caso perdido que eu era. Grande erro. E os italianos sabem muito bem disso quando proverbeiam "mantenha seus amigos próximo, mantenha seus inimigos mais próximo ainda".
Quando eu estava de volta ao aconchego das poltronas da platéia, era aí que eu dava show. Eu fazia questão de sentar nas fileiras mais próximas ao palco, para cantar junto todas as musiquinhas que passávamos semanas ensaiando. Se eu cantava paródias de letras sacrílegas? Não, isso seria óbvio demais e daria motivos para uma dura reeprensão, fora que outros tantos já estavam fazendo isso. Eu utilizava o que estava começando a aprender nas minhas aulinhas de canto para dar toda a potência da minha voz, e aproveitava toda a minha musicalidade para desafinar alto, pontiagudo, para chegasse aos ouvidos da freira darth-vader e atrapalhasse a sua debilitada afinação.
Lembro das minhas coleguinhas reclamando, "poxa, tem aula de canto e canta assim?". Exato, eu lhes dizia, porque aí eu conseguia projetar a minha voz o suficiente para conseguir o que eu queria.
Sendo assim, eu me torno pior do que os cantores de pagode e afins, que desafinam porque simplesmente não afinam; e não por pura maldade como eu, para atrapalhar celebrações em nome de Deus.

2 comentários:

Gabriel Cruz disse...

Repito isso em mais um post seu: já tenho o story board pronto. Quando começamos a produzir o curta...

sem falar em "Chato-Pai: The animated Series". que já está quase com a Bible pronta para o próximo pitching!!!!

Anônimo disse...

te respondi!