quarta-feira, novembro 18, 2009

Platéia fina

Quando foi que entrou, eu não sei bem. Sei que quando eu voltei a sentar no piano, ela estava lá. Foi delicada em não ocupar meu lugar, mas foi ousada em ficar bem de frente para mim. Não protestei, sentei no banco, abri minha pasta diante de mim e estalei os dedos para tocar. Mas antes resolvi testar. Pisei no pedal e fui tocando os acordes, dos mais agudos e perfeitos aos mais graves e dissonantes. E vi que ela não é bem sensível à harmonia, é mais uma questão de altura de som mesmo. Conforme eu mais descia ao grave, mais ela se abaixava e abria as patas sobre o tampo do instrumento.
Preciso dizer que, apesar da sua pupila vertical e da sua postura desleixada, poucas vezes vi uma platéia tão atenta e educada, nem mesmo piscou ou olhou para o lado enquanto eu tocava as peças do meu repertório.
Dessa vez, teve registro, para ninguém dizer, como foi da outra, que era invenção da minha parte.

Mas não se enganem, ela não inventou de tocar comigo ou quis interromper a minha performance. Ela só pulou no teclado à caminho do chão para ir embora. E depois sumiu. Antes que tivesse um nome. O Lafa entende do que tô falando.

Um comentário:

lulu! disse...

tifofo! ;)