domingo, maio 30, 2010

Presente de índio

Chato-pai, ontem, chegou de uma viagem para o norte da América do Sul, subiu a região dos Andes. Ele sempre me pergunta o que eu quero, e eu sempre falo marromeno as mesmas coisas, "um xale ou alguma coisa que olhe que ache legal". Assim como eu acho o fim pessoas que viajam para lugares exóticos para beber Coca-Cola e comer McDonald´s, não acho o menor barato querer coisas que posso comprar por aqui, tem que ser algo que tem a cara desta outra cultura, externa à nossa.
Bom, Chato-pai desta vez veio com o discurso "xale que nada, se não gostar do que comprei, eu arrebento na sua cabeça". Justo. E então ontem de manhã, ele me mostrou. Trata-se de um charango. Uma espécie de alaúde sulamericano, de dez cordas, com uma afinação em modo menor. Muito interessante e gracioso, com um belo som, um tamanho compacto, um pouco mais curto do que meu braço, veio até com um pequeno manual. Logo que peguei ele nas mãos, educada que sou, agradeci:
— Ah, obrigada, Chato-pai, agora já vou poder fazer um troco no Largo da Carioca. 
Ele me olhou com aquela cara de sono, característica de quando não quer rir das minhas piadas. 
Depois dos primeiros dedilhados, me perguntei da possibilidade de trocar suas cordas de naylon por aço, talvez dê um som interessante. E depois de um tempo, quando fui guardá-lo em sua capa tradicional, ornada com os desenhos característicos da cultura andina em cores vivas sobre fundo preto, me perguntei da possibilidade dele passar uma imagem às pessoas de que sou maconheira. É um risco a se correr.
Fato é que agora, mesmo ainda sem dominar meu novo instrumento e tendo saudades dos calos nas pontas dos dedos de tocar violão e guitarra que conquistei na minha adolescência, estamos nos tornando bons amigos. Ontem, no carro vindo para casa, tirei ele da capa, aproveitando seu tamanho diminuto, e comecei a pedir desculpas aos senhores passageiros por incomodar o silêncio da viagem, naturalmente com o meu sotaque castellano fajuto, e entoei algumas canções inexistentes do folclore sulamericano.
Quem sabe quando eu aprender melhor a improvisar e melhorar minha pronúncia, eu consiga um trocado. 

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