terça-feira, julho 12, 2011

Não é brinquedo,

De vez em quando, eu crio vergonha na cara. De vez em quando, só. E tento fazer com coisas simples, para que eu sempre me lembre que é fácil, e no futuro não perca a coragem de fazê-lo novamente, com uma outra coisa simples, lógico. Então, desta vez, assisti por completo a trilogia Toy Story. Eu, sinceramente, não sei porque demorei tanto tempo para tomar essa atitude. Gosto muito de animações. E o que eu acho mais interessante não são nem as questões técnicas da qualidade gráfica, por mais que impressionem. Para mim, o mais rico mesmo é como os caras são criativos em seus roteiros, e sabem aproveitar a possibilidade de criarem qualquer coisa no universo que quiserem, como brinquedos falantes, pássaros malandros e insetos no divã. E exatamente a riqueza e ousadia desses caras ao darem vida às suas idéias é que tornam as animações diversão para todas as faixas etárias, todos os gostos. Adoro as referências aos clássicos do cinema que eles fazem. Me acabo de rir, feito criança mesmo. E, se consigo chegar ao extremo do divertimento, naturalmente que vou ao outro e choro copiosamente quando as personagens arregalam os olhos num momento de tristeza/fofura. Sobretudo porque todo o time que participa de uma animação deste porte é gente grande, o que quer dizer que as trilhas sonoras são capazes de fazer um legionário dizer que está com um cisco no olho.
Ontem, por fim, eu vi Toy Story 3. Gracioso demais. O interessante de ver a seqüência dos filmes é notar o quanto a qualidade do trabalho foi evoluindo e atingindo níveis impressionantes. Só que no final, lá do último filme, depois de vários apuros, problemas, vilões macabros, eles caem num lixão e vão sendo levados para o incinerador. Eles tentam de tudo, são traídos e tudo mais! Até que, olhando de frente para o fogo, eles percebem que não há mais saída, e começam a se dar as mãos para encarar o fim trágico unidos. Tipo, oi? Hein?! Suponhamos, eu levo meu pimpolho para passear num dia de sol, ponho ele na camisa do Ben10, decido levá-lo ao cinema para um programa família, compro pipoca, bala, suco em caixinha — porque eu não vou envenenar meu filho com refrigerante — e estamos todos acolhidos pelo breu da sala escura, fazendo croc-croc, curtindo as aventuras de uma turma do barulho, até que...
— Mamãe, por que eles pararam de tentar sair daí?
— Porque perceberam que o fim é inevitável e resolveram se unir durante o último momento de vida para encarar a morte trágica com honra, no acolhimento daqueles que se amam, depois de tudo que fizeram para se manterem unidos e ainda assim o destino ter sido cruel em botá-los ali. Agora continua vendo o filme, meu filho, e fecha a boca que sua pipoca tá caindo! Olha lá o Buzz, que bonitinho!
É uma bela lição, importante mesmo. Mas será que a vida não pode esperar um pouquinho mais para acertar meu filho desta forma, e fazer isso de maneira gradual, ao longo dos anos, das espinhas e dos tocos, ao invés de pegá-lo desprevenido numa tarde alegre de um programa família? A não ser que eu esteja criando um substituto para o Bruce Wayne, aí a coisa muda de figura.

4 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Também, Bonnie and Clyde, perceberam que o fim era inevitável... não comeram pipocas, mas levaram chumbo quente de uma rajada de balas.
Vou lá eu descobrir esta associação de ideias...

Um abração.

Casa dos Reis disse...

As crianças pelo menos não vão mais quebrar seus brinquedos. Se os pais forem espertos podem fazer com que elas até catem e guardem nas caixas. Eu, criança, ia ficar aterrorizado com esse filme e tomaria uma providência drástica: queimaria todos os meus brinquedos numa pira de inquisição...

Eu - "Seus malditos poltergeists de uma figa. A hora de vocês chegou. Queimem no fogo da inquisição e arrependam-se dos seus pecados, não necessáriamente nessa mesma ordem!"

Não são brinquedos, são poltergeists disfarçados de filmes da Disney querendo corromper nossos filhos os ensinando a beber coca cola e aceitar o domínio dos porcos imperialistas!!!

hauhauahuhauahuau!!!

AlvaroCastroJr disse...

Anotando... anotando... ela quer ter um filho... quer que ele substitua o batman...

Gabriel Cruz disse...

Lembre-se da mãe do Bambi, do Mufasa(Pai do Simba), da Esposa de Carl Friederickzen e tantou outros exemplos... TS3 não traz nenhuma novidade sobre a imagem da morte nas animações!