terça-feira, dezembro 20, 2011

Lição de papai

Quando eu era adolescente, era metaleira-revoltadinha-subversiva. O que é algo bom. Eu poderia ter sido pagodeira, funkeira ou até conformista. Convenhamos, revoltadinho todo adolescente é.
Foi marromeno na época que eu estudava no colégio de freiras, e todo o papo de Catolicismo tava me dando um entojo daqueles. Naturalmente, eu queria ir contra. Sendo assim, eu exercia meu senso crítico sempre que podia, e isso significava querer comer carne na Sexta-feira da Paixão. Numa dessas, saí com o Chato-pai para almoçar. Pedi bife com fritas. Meu pai me chamou atenção, mandando que eu escolhesse algo sem carne.
-- Mas pai, eu não ligo para isso.
-- Então vai devolver o ovo de páscoa?
Calei minha boca. E para sempre. Nunca mais pedi carne na páscoa. E não porque não quero devolver meu chocolate. De fato, sou capaz de abrir mão dele por inteiro, como já fiz várias vezes. Acontece que quando o meu pai me fez a pergunta acima, ele me ensinou, primeiro, que eu devo saber muito bem que posturas estou assumindo para que eu seja capaz de assumí-las verdadeiramente, disposta a aceitar o total sucesso delas; segundo, que posso ser contra qualquer coisa, mas, acima de tudo, tenho que ser a favor do respeito. Eu posso não compartilhar do espírito da estação, mas se eu me sento a uma mesa com pessoas que estão lá para celebrá-lo, sou eu que devo destoar do clima jogando na cara das pessoas o que acho ou deixo de achar?
Não sou católica, mas acho que o Natal é uma data importante para nos lembrar certos valores. É bom que nos lembremos deles. Senão, é melhor fazermos qualquer outra coisa, até mesmo aceitar que fiquemos sem presente. Meu pai sempre tem o maior cuidado em fazer a decoração de sua casa para o final do ano. E queria que houvesse um jeito de explicar o prazer que tenho em ajudá-lo, em estar com ele e compartilhar um momento que não precisa ter data e hora marcada ou que haja um traje ou um comportamento determinado para isso. E para mim, aí mora o Natal. Em estar com a minha família, pelo simples fato de estar com junto, sem o compromisso.
Esse ano, por ter viajado, não arrumei a árvore com Chato-pai, e admito que isso me fez falta. Desde que parti, venho trocando emails com ele, sobre antigos amigos, CDs de Jazz e o que tenho visto aqui. E olho para minha relação com ele e vejo como é bonita, como nos reconhecemos, como há coisas que só ele entende e que nós dividimos. E aí mora o que significa familia. Há diferenças, mas elas se perdem nos decalques de amor que têm vastidão marítima, e podem até, assim, virarem tesouros.
Em breve estaremos juntos de novo, juntamente com o futuro senhor Kath. E aqui o meu sorriso me cala. Feliz natal!

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