quinta-feira, janeiro 12, 2012

Apelando

A situação da minha casa 101 anda calamitosa. Nunca foi lá essas maravilhas, mas agora atingiu níveis críticos. Aliás, se eu divulgar muito, tenho medo de entrar gente vestida de astronauta com ordem de interdição. Se bem que gente vestida de astronauta limpando tudo não é uma má idéia, o problema é que iam mudar minhas coisas de lugar e eu teria que procurar tudo depois, e provavelmente encontraria no lixo.
Eu to tentando achar alguém pra me ajudar com meu problema, incansavelmente, e sempre faço uma cara de personagem do Stephen King quando pergunto "você tem uma faxineira boa?".
Inclusive, eu tenho tanta consciência de que minha expressão facial é terrível ao indagar tais palavras que às vezes chego a duvidar da qualidade das pessoas que me indicam. Afinal se você achou alguém de confiança que faz bom serviço, você não vai querer que ela tenha qualquer contato com pessoas loucas que configuram possíveis ameaças à integridade.
Perguntei a uma amiga sobre o assunto. Ela me esnobou, "sabe que lá em casa tem três empregadas, né?"
Deus não é justo mesmo, a gente já sabia, uns com tanto e outros com tão pouco. Então eu fiz o que Deus sempre me poe pra fazer, mendigar:
-- Caraca, por favor, eu preciso de uma para limpar lá em casa, vê quem pode, pago o que for, abandono meus luxos, deixo de comer manteiga no pão.
Depois de um tempo ela me volta:
--Poxa, nenhuma pode. Tem só uma que não fica lá todos os dias, e então ela fica na casa do meu irmão.
Fiquei em choque. Na casa dela moram duas avós, ambas saudáveis e lúcidas, um cachorro cego, ela, e os pais. Cada ser vivente lá mobiliza meia pessoa, em horário integral, para viver. Já falei que Deus não é justo?
Eu fiquei imaginando ela com as avós roubando saco de aspirador de pó cheios do lixo dos outros, levando para a casa e usando aquilo para fazer guerra de travesseiro. Imaginei os pais vivendo aquela vida de rockstar, cultivando prato com resto de pizza do ano passado embaixo da cama. Imaginei eles sentados na hora do jantar fazendo guerra de comida. Fiquei me perguntando se o cachorro não precisava de alguém para lhe servir como guia, o que mudaria sensivelmente a proporção faxineira/pessoa. 
Mas eu continuei na minha caçada. E eu ligo, digo boa tarde, pergunto, não choro no preço, falo que quero alguém para ser regular... E nada. Ninguém aceita, ninguém pode, ninguém tá disponível. Peguei um número ontem, que quando liguei hoje ouvi um "ela não mora aqui" em tom rude. Eu sei o que foi isso. Foi a própria faxineira que atendeu, mas elas sentem cheiro de desespero, só de ouvir minha voz elas sabem quanto de sujeira tem na sua casa, o estado do seu bidê, a idade da salada de batata no fundo da geladeira, por isso foi grosseira, não quer ter que fazer limpeza com escova e produtos militares, não tá afim de, antes de varrer o chão, ter que ficar de quatro raspando o piso com espátula para tirar a poeira sedimentada pelas solas do sapatos com sujeira das ruas.
Verdade é que estou desistindo. Chega de perguntar, de ser educada, de dar boa tarde pra criadagem! Eu vou é pegar um carro espaçoso e escolher nas ruas. Se eu vir uma mulher saudável, bem disposta, saindo no meio da tarde de uma casa com de banho recém tomado e uma sacola plástica na outra mão, vou saber que ela sabe limpar. Eu vou é jogá-la no porta-malas, levar até minha imunda residência, apontar um revolver na cabeça dela e gritar "limpa tudo! ou te enterro no quintal!"
E vai ser bom, porque o medo faz todo mundo trabalhar, se não melhor, mais motivado.
Quando ela acabar eu pago a diária+vale-transporte e marco com ela na semana seguinte. Mas só se não mudou a ordem dos meus livros na estante.

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