Miojo Preto

Já que criou tanta comoção (aposto que Xistosa ri até agora do papo da troca do fornecedor), eu decidi contar essa história. Afinal, você já notaram que minha vida é cheia de episódios bizarros mesmo, chega de pose.
Eu tinha um amigo, delinqüente e degenerado como todos os meus bons amigos, o Fael.
Um dia entro na casa dele e noto uma fumaça na cozinha, nível oito, parecia Mordor. Ele lá, diante do fogão, mexendo numa panela que parecia um terrorista depois de ter delatado todos seus comparsas. Estiquei os olhos naquilo e não me contive:
— Que isso?
— Miojo.
Quando ouvi aquela resposta, não achei que ele tivesse ouvido minha pergunta. Era preto.
— Olha o respeito, muleque, responde direito! — Pescotapa nele. — Que isso, porra?
— Porra, já falei, miojo! — disse ele virando aquilo num prato que tinha um garfo ao lado.
Momento de tensão. Se fosse a tigela do cachorro eu chamaria sociedade protetora dos animais, mas o que fazemos quando alguém quer se envenenar?
— Cara, na boa, você não vai comer isso.
— Vou, ué, não fiz? É só botar maionese, ketchup e molho inglês e pronto. — Lógico, né? KY é caro.
— Fael, pára — disse afastando ele do prato. — Come isso não!
— Devolve minha comida.
— Não é comida!! Tem mais miojo? Eu faço pra você!!
— Sério? E você sabe fazer? (!!!!!!)
Silêncio. Existe reposta para essa pergunta?
— Igual ao da propaganda? — O tom dele era de emoção.
Enfim, fiz miojo pro meu amigo. Quando pus o prato diante dele, ele olhou aquilo com uma cara de mulher que descobriu que o vestido Channel cabe nela e ela pode pagar, saca? Até deu aquela inspirada boa para sentir o delicioso cheiro do tempero em saquinho sabor galinha caipira.
Fato é que, pra decepção da Zu, nunca descobri como ele fazia para chegar àquilo, se botava nescau, nanquim ou se usava de magia negra.