terça-feira, outubro 23, 2007

Metrópole - parte 4

Calçou os sapatos de chuva e deu a última olhada diante do espelho. Respirou fundo, como um meio de reter mais daquela boa sensação. Era mais um dia de levantar-se antes do sol, nada de especial ou incomum. Exceto que estava lá, diante do seu próprio armário, próximo ao seu banheiro, novamente. Por algumas semanas, teve a impressão de que aquilo tudo seria parte exclusivamente de seu passado. Em alguns momentos, o divórcio pareceu inevitável, iminente, necessário. Mas como uma longa tempestade, contrariou a impressão de que era permanente e se foi. Passava os momentos em sua cabeça para tentar descobrir quando foi que encontraram o rumo de volta ao outro. Teria sido durante a peça do filho na escola, ao fechamento do novo contrato ou ao temor de que pudesse ser ela naquela notícia?
Circunstâncias, pensou.
Deteve-se ante a cama, viu volume aninhado sob os lençóis. Sorriu e se aproximou.
Deu um beijo seguido de uma longa inspirada. Deu mais um beijo. Recebeu um sorriso em retorno; um abraço forte. Por um momento curto deixou-se aninhar na calidez dos lençóis e das carícias. Fez menção de levantar, mas o abraço não afroxou. Riram.
— Eu volto mais cedo para te dar mais um beijo.

2 comentários:

Ricardo Artur disse...

Ai,ai!
Adoro o lirismo das pequenas coisas da vida.
Especialmente do modo como você narra.
Por isso sou cativo da 101.

Beijos

xistosa, josé torres disse...

Fica sempre a flor.
O pólen leva-o o vento, mas não se nota, pois a beleza é superficial, nas flores.
Saber vencer os obstáculos foi sempre o meu lema e da minha parceira.
Ás vezes há amuos, sempre, mas sempre por ninharias ...
Também com o meu feitio ... levo tudo na brincadeira, tenho mente de 12/14 anos e não se desenvolveu ...
O mundo é um sorriso!