sexta-feira, dezembro 07, 2007

Metrópole - parte 5

Em meio às lamentações do passado e antenas de automóveis, viu aquela bela figura fazendo sinal da calçada. Encostou o táxi não sem antes trocar a estação para aquela com músicas de motel, estratégica. A porta de trás abriu e entrou uma mala grande que desceu sem jeito sobre o banco. Logo a porta do carona se abre, ela recolheu a barra da saia e enfiou aquela longa e corada perna carro a dentro.
Ele, que sempre se considerara muito descolado com as mulheres, não conseguiu manter seu pulso inalterado ao ver aquele joelho feminino que trazia consigo uma brisa de perfume floral. O último aroma que aqueles bancos haviam provado era do sachê que o posto de gasolina havia dado aos clientes na Copa.
A porta se fechou, ele engatou a primeira e só depois lembrou de zerar o taxímetro.
— Boa tarde, para onde eu levo a senhora? — Mal sabia ela que essa pergunta só algumas poucas passageiras escutavam.
— Centro.
A boca secou, os lábios selaram. Futebol, novela, política, tempo; nenhum assunto parecia caber-lhe. A passageira inclinou-se enfiando as mãos na bolsa, puxou uma necessaire, abriu o pára-sol, retocou o batom e desfez os nós dos cabelos esvoaçantes. E aquilo lhe provocou um sorriso velado, inadequado. Afundou ainda mais no assento, acomodando-se naquela sensação, deixou fingir que aquela mulher era a sua, que estaria levando-a para onde quer que fosse e que no final seus lábios estariam manchados daquele vermelho vivo. Buscou-a no canto da vista, ela olhava pela janela, seguindo o Pão de Açúcar com os olhos. Buscou qualquer sinal, ouviu-a murmurando a música que tocava. Então esticou a mão e subiu o volume dois pontos. Ela fez uma pausa. E voltou a murmurar.
Depois da curva, ele reduziu a marcha e freou. Engarrafamento.
Ao contrário do que alguns pensam, ele odiava. Mesmo com o taxímetro ainda rodando, sempre tinha a sensação de que retenções no trânsito eram anti-produtivas e dispendiosa. Mas ali não. Deixasse-o fingir mais um pouco, e aquele perfume se fixar melhor no forro do estofamento.



Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Ás vezes somos invadidos por premonições.
Será o vertente caso?
Espero a Parte V
Bom fim de semana.