Engraçado é que, ainda assim, gosto de estar sempre por aquelas bandas. Cresci por muito tempo em um bairro sem mistérios, com infinitas lojas de carros, letreiros e franquias. Todos os caminhos e possibilidades já estão traçados, todos os cardápios são os mesmos, com os mesmos gostos, tudo é anunciado e conhecido.
No Centro, não. Há infinitas ruelas, figuras, antros e portas. Nem tudo é divulgado, luminoso. Em sua maioria, nem é convidativo. E é exatamente aí que mora o encanto. É precisar garimpar, cavar, queimar os cabelos sob o sol, para que as gemas da cidade sejam reveladas. Para descobrir a melhor torta, o fornecedor de elásticos de cabelo, a chapelaria de 113 anos de tradição, os pacotes de grafite e cadernos mais baratos que a passagem do ônibus, o livreiro da rua que já leu aquele livro raríssimo que você quer. É só quando aquilo que ela tem de hostil e rude não te afasta que ela te mostra aquilo que te encantará.
Há alguns bons anos li que cidades são femininas, que cada uma possui um caminho único para ser desvendada, e que esse caminho é ela mesma quem determina. Concordei à época e, hoje, sei ainda melhor o porquê. Mas, intimamente, me pergunto se é por que conheço melhor a metrópole ou por que entendo melhor do objeto da metáfora.
I was told there's a miracle for each day that I try
3 comentários:
Boa pergunta.
Gostei da descrição ... é aí e aqui, a verdade nua e crua, do Centro.
O "conferidor" é o máximo.
Não tenho muito tempo, nestes dias mais próximos, mas gostava de compilar algumas palavras, para um dicionário, brasileiro-português, ou o inverso, mas para quem não sabe ler como eu ...
Bom fim de semana!
E eu sinto uma saudade imensa diso tudo. Não sei se exatamente do calor, mas de todo o resto. Preciso ir na feira de antigüidades da praça XV...Agora essa opção se torna mais difícil.
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