sábado, abril 19, 2008

Palavras nunca bastarão


Fiz um post. Tá já revisado, talvez eu ainda vá mudar uma coisa ou outra (mas eu sempre mudo mesmo depois publicado). Só que esse ainda não consegui publicar. E não é um problema deste caso específico, o post tá bom, assim como vários outros da minha cabeça já estão esquematizados. Só que têm um tom humorístico, e não consigo, por enquanto, imprimir esse tom no Casa.
K morreu, se foi, mesmo que dentro de mim haja uma sensação que não me deixa desde a hora que soube de sua morte de que é possível que ela volte. De certa forma, para ela tudo era possível.
Não dá para fazer piadas aqui quando tudo que quero dizer é o quanto eu tenho saudades dela. E dele também! Talvez porque tudo esteja muito recente, haja muita coisa descendo como uma avalanche, ou porque ainda carregue em minhas mãos as dores que enterrá-la me causou. (Obrigada, mais uma vez. Me pergunto se haveria forças suficientes em mim para fazer isso sozinha.)
As pessoas me perguntam como estou e digo-lhes melhorando, não pela atitude de fingir que vou bem, mas pelo hábito de cair e levantar. (Talvez demore mais ou menos, esse hábito tem uma maneira curiosa de funcionar.) De fato, não ando pelos cantos, cabisbaixa, mas há algo no fundo dos olhos que não estava lá antes.
E como colocar isso num post que não seja a minha crua confissão da minha própria inaptidão ante a tudo isso? Penso que esta seja a resposta mais difícil a ser respondida. Canela era feita de coisas tão indizíveis; entre nós duas foi tudo tão não-dito.
Talvez seja elucidativo contar um pouco do início. Quando comecei a morar sozinha, Atlas chorava durante o dia de solidão (sair de manhã era como morrer um pouquinho). Então comecei a buscar uma companhia para ele. Andando pelo Flamengo, passei na frente de uma pet shop, parei alguns passos depois, voltei e entrei. Engraçado é que sempre que faço isso, algum encontro acontece. E aconteceu. Vi lá um cartaz da Canela; o nome me chamou atenção, era algo que eu usava em tudo, até em iogurte. Gosto do cheiro, do perfume e da cor.
E agora, depois de ter temperado minha vida com a expressão mais linda que a rama já teve, eu tomo a especiaria com mais carinho, por me lembrar da minha que era adocicada e, do jeitinho dela, picante.
Bom, talvez agora que eu tenha expressado tudo isso (não que eu tenha deixado nada claro), eu consiga publicar o que tenho. O que nos redime não é o padre, é a nossa confissão.

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Não são necessárias muitas setas para atingir o alvo.

Penitencio-me pelo que escrevi.