sexta-feira, julho 11, 2008

Metrópole - parte 6

Logo após o último lance de escada, fechou a porta atrás de si. Os operários estavam fora já fazia tempo, ninguém apareceria ali para incomodá-lo. Ou dissuadí-lo. Checou a vedação dos plásticos para proteger o piso e as paredes dos estragos das obras. Estavam perfeitos, como deviam ser.
Puxou a cadeira velha e empoeirada ao centro do salão, deixando bem à frente da grande janela que se estendia de uma ponta à outra, por onde entrava toda a luminosidade.
Sentou-se, livrando-se do saco de papel pardo. Ali, não precisava mais de disfarce algum. Não havia mais ninguém de quem ocultar a pistola que o acompanhara na escalada até o último pavimento. Apoiou os cotovelos nos joelhos enquanto observava as luzes da metrópole correrem por seu esmalte cromado. Engatilhou, pôs o cano na boca, recostou.
Fechou os olhos e abaixou a arma.
Tentou fitá-la novamente, sem medo como antes. Se não fosse por ela, seria pelo ônibus furando o sinal, pelos freios falhos do carro, pela gordura envelhecida do bacon, câncer dos refrigerantes, enfarto dos noticiários, efizema dos escapamentos, febre da vida, pelos dias deixados pelas ruas. Ali era a chave de se poupar de tudo aquilo. ...não?
Baixou de novo a cabeça, pensou de novo nas luzes, da metrópole. E ouviu seus ruídos.

Um comentário:

xistosa, josé torres disse...

Eu vou roubar todas as "partes".
Só não começo já, porque não quero ficar suspenso na ponte, sobre um rio pejado de jacarés ...

Eu sou assim ...

Me desculpe!