terça-feira, outubro 07, 2008

Salvação

Primeira aula de Tai Chi Chuan. Fui lá eu toda empolgada, tava adorando, já achava que todos ali eram meus novos melhores amigos. Aí que uma senhorinha fala:
— Meu sonho é treinar bastante para participar da abertura da novela Negócios da China. Hehehe
Corrigiram-na, dizendo que aquilo se tratava de Kung Fu, e o Tai Chi é uma parte dentro dele. Mas eu não soube ser educativa nem qualquer outra coisa amena. Eu só sorri amarelo e dei um "ha" que quem me conhece sabe o que significa. O fato é que odeio novela. Abomino novela. Acho o fim do mundo as pessoas pararem o que estão fazendo para ver o que já sabem que vai acontecer no capítulo, já disse. Acho lamentável mudar a programação e de repente o corte da fulaninha é o que todo mundo quer fazer. Fora que brasileiro acha que gente chique faz barraco, porque nada como um bom arranca-rabo em horário nobre.
Mas não foi sempre assim. Houve um período saindo da minha infância e entrando na puberdade em que eu passava as tardes sentada diante da tela, vendo cada novela que começava. Não que eu achasse aquilo essencial, mas realmente não tinha grandes opções naquela época. Mas o que mais surpreende nessa história foi como eu fui liberta. Ao contrário do que se espera, não foi minha mãe quem mudou tudo, não foi ela quem mudou o canal ou me proibiu de ficar ali gastando a minha vida. Ao contrário do que se espera, não foi uma reeducação, um processo árduo, foi mesmo de um dia para o outro. Graças à minha avó, que tinha vindo de Sampa nos visitar, quando a minha mãe lhe perguntou:
— Ai, mãe, você já viu essa mulher nessa novela?
— Não, filha.
— Tá ótima! Tem que ver!
— Não, filha, eu não assisto novela.
— Ah, mas essa é muito boa! Devia ver!
— Filha, eu tenho 3 filhos que se casaram e foram para as suas casas, meu marido faleceu. Se eu passar o dia na frente da TV acompanhando novela, minha vida acabou. Que mais eu vou poder fazer?

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