sábado, dezembro 20, 2008

Entrando no espírito natalino - parte II

No melhor estilo demorô-mais-veio.

Perdeu a parte I?
Quando Papai Noel sentou-se no trono, foi um tal das crianças voarem para cima dele feito um bando de urubus famintos. Estávamos vendo tudo um andar acima, e de lá já nos pareceu um inferno, imagino eu como era para aquelas paquitas de shopping, ou então para o velhinho vestido com roupas de veludo e botas naquele calor. E eu me perguntava que tipo de coisas escutava daquelas crianças aquele sujeito dentro da menor sauna do mundo.
Alguém então teve o bom senso de formar uma fila, imensa, e eu lá de cima, aproveitando que ninguém nos ouvia mesmo, só resmungava.
— Gente, isso é só fila para pedir, olha o tamanho!! E ninguém vai ganhar nada, avisa a esse povo!
Meu colega ao lado riu, e comentou, conseguindo estar ao mesmo tempo estarrecido e resignado:
— Olha quanta criancinha enganada. — Concordei. E ele prosseguiu: — Não sei como as pessoas pensam que uma historinha dessas consegue ser mais bonita que a realidade. Quem dá os presentes para a minha filha sou eu e a mãe dela, e a gente se esforça para isso, dá duro, porque ela merece. O que há de errado em dizer isso a uma criança?
Naquele minuto eu fiquei realmente feliz por ter alguém comigo que pensasse como eu. Além do engodo que aqueles pequenos estavam engolindo, me perguntei se aquilo tudo compensava. Compensa ensinar ao seu filho que Papai Noel existe para ter que ir com ele num shopping lotado, entrar numa fila selvagem, só para ele sentar no colo de um velhinho sendo assado dentro de veludo vermelho? E, sinceramente, com as coisas cada dia mais absurdas que vejo hoje, não quero meu filho sentando no colo de qualquer um.
Então retruquei ao meu amigo que aquilo não passa de uma excelente oportunidade de ensinar valores, que nada vem de graça nessa vida e que as coisas não caem do céu nem vêm de trenó.
Depois do show, fui pegar minhas coisas para depois encontrá-lo. E então no elevador, já sem o uniforme de coralista, escuto de uma mãe comentando com outra pessoa:
— Ah, foi lindo. E a barba dele é de verdade, dá pra puxar.
— Sua orelha e seu cabelo também são de verdade. Você deixa seus filhos puxarem também? — não contive.
Ela não responde, se limitou a me olhar com uma cara como se a mal-educada fosse eu. Lógico que ela jamais pensaria isso dos filhos dela, que puxam a barba dos outros.

Nenhum comentário: