sexta-feira, janeiro 23, 2009

Na primeira luz do amanhecer

Sim, eu, a anti-TV, anti cultura-americanista, assisti a posse do Obama. E gostei, foi um dia feliz para mim. Não poderia ter acabado de uma maneira melhor do que foi: o helicóptero com o ex-presidente indo embora. Mas preciso admitir que não foi só isso que me prendeu sentada na poltrona da minha vizinha.
Obama é o primeiro presidente negro na Casa Branca. Ao invés de entoar um discurso pantera-negra, prefiro tomar a perspectiva de que ele fez uma nação ser maior dos que seus preconceitos com raça, origem e com gente de nome Hussein.
Foi uma cerimônia bonita, inclusive a primeira-dama deu um show de elegância com seu vestido e jóias bem dosadas; muito mais do que a vice-primeira-dama, platinada, de casaco vermelho sangue e botas. Sim, bonita, mas talvez não fosse o melhor para aquela ocasião. Elegância também teve o público, que se limitou a dar um aplauso minguado quando George W. Bush apareceu, sem vaiar; sabiam que a ocasião não era para isso.
Admito que me senti arrepiada quando vi o astro da festa tomando seu lugar na tributa, até caiu um cisco bobo no meu olho que tirei logo. Mas então quando vi Yo-Yo Ma com Itzhak Perlman tocando aquela composição do John Williams, eu chorei mesmo, com dignidade, quase fiquei de pé! Não me julguem, vocês sabem que sou refém de compositores de trilhas sonoras. Ainda falando de música, para arrematar com chave de ouro, houve um belo arranjo com Star-Spangled Banner, e o coro de vozes foi tão bom que nem fez aquela respiração no último verso, "and the home of the (inspíííra) braaave!" E foi só, não quero falar sobre a Aretha Franklin, porque isso vai me fazer falar daquele laço no chapéu dela.
Mas o que mais gostei mesmo foi do discurso dele. O cara soube evocar aquilo que os EUA têm de melhor, um povo corajoso, esforçado e destemido, soube fazer referência a outros grandes discursos memoráveis, e então falou dos problemas da nação de uma maneira muito cônscia, sem alarmismos mas também sem menosprezo; e, por último, lá pro final, falou de maneira nada piegas da sua origem e de como a condição do negro mudou em 60 anos, como hoje sobe à presidência um homem cujo pai não podia sentar-se em um restaurante no passado. Tive até inveja, queria que a minha nação tivesse um presidente que demonstrasse tanta noção e energia assim, e isso não tem nada a ver com o fato dele ser saradão ou espirituoso.
Desnecessário esclarecer, mas não custa, que não é porque ele é negro que quer dizer que vai ser bom presidente, isso não tá no tom da pele. Mas, simplesmente por ele ter chegado lá, mostra a garra que tem, sobretudo que não tem medo de tabus. Obama representa uma nova fase da política, uma quebra de paradigma forte e positiva, o cara é pop! E, talvez exatamente por isso, eu torço para que ele não tenha o mesmo fim trágico de outro presidente igualmente pop que também rompeu com tradição. Melhor nem falar no assunto.

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