sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Problemas urbanos 11:

auto-narradores.
Mais comum do que se imagina, esta espécie está por todos os lados. Não são simplesmente aqueles que querem buscar papo com qualquer um na rua, mesmo os surdos e os mudos. São pessoas que assumem um comportamento expansivo e ruidoso: narrar a própria vida, não importa o que estejam fazendo. Geralmente sozinhos, o que explicita não haver um interlocutor com quem travar um diálogo, dão larga preferência ao verbo "deixar", em construções do tipo "ai, deixa eu tomar um cafezinho", "deixa eu ver quem me ligou, deve ser meu filho", e entre um apelo de permissão e outro, inserem comentários. Redundante dizer que os comentários são desnecessários, posto que toda a narração é feita em cima de um cotidiano banal.
Aparentemente, trata-se de um comportamento inocente, inócuo. De fato, não tive conhecimentos de guerras travadas por alguém receber relatos constantemente atualizados sem prévio consentimento. Mas é chato, desagradável, quando você está numa sala de espera, por exemplo, cuidando da própria vida, lendo um livro ou ouvindo um sonzinho, e há um auto-narrador em plena atividade.
E o problema se agrava quando, dado que alguém está falando com você, é permitido que esta pessoa invada seu espaço pessoal (ver nota). Sendo assim, cabe a você defendê-lo. Para isso, há duas formas: a primeira é física, o que te caracteriza como um ogro não apto para a vida em sociedade; a segunda é verbal, e aí, se você teve que abrir a boca e articular sons reconhecidos por alguma língua, pronto, você travou diálogo com um auto-narrador, e deu brecha para ele desfiar suas reclamações ou desculpas, ou seja, mais assunto.

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